sábado, 5 de novembro de 2011

Família Chalbaud - Curitiba, 1945

A família Chalbaud reunida em 1945, defronte a casa de Antonio Chalbaud Biscaia, na rua Lamenha Lins, 213, em Curitiba, quando da visita de Evaristo Chalbaud Escosura e sua família, que viviam em Buenos Aires, Argentina. As irmãs de Evaristo: Concepción, Carmen, Josefina (minha bisavó), Mercedes, Julia e Joana, residiam em Curitiba. Josefina Chalbaud Biscaia é a quarta, da direita para a esquerda, sentada. Evaristo Chalbaud está sentado, bem ao centro da foto. Ao lado esquerdo deste, está sua mulher, Maria Elvira Chalbaud Reynolds. Na segunda fila, de cima para baixo, ao centro, estão meus avós Olga e Mario Chalbaud Biscaia, com minha madrinha Vera Regina, no colo. A criança de vestido branco e laço no cabelo, na primeira fila embaixo, é minha mãe Maria do Rocio Soffiatti Biscaia.    

sábado, 20 de agosto de 2011

Família Peralta: Ainda, o Velho Guaribu


A cachoeira que existia no velho açude do Guaribu



Nas fotos acima, entre outros jovens da família Peralta, aparece minha avó Dyrce Peralta
 



Dyrce e Arthur Carlos Peralta


Nas três fotos acima, meu pai, Carlos Henrique Peralta, na varanda frontal do casarão da fazenda do Guaribu, em fins da década de 1930. Os bancos da varanda eram em pedra de cantaria cobertos por líquen, nesta época. Ao fundo a bela vista do vale.

Os jovens da família Peralta, em fins da década de 1930, na fazenda do Guaribu, situada em Avellar, no município de Paty do Alferes (RJ). As fotos mostram meus avós, Dyrce e Arthur Carlos Peralta, meu pai, Carlos Henrique Peralta, familiares e amigos em vários lugares da velha fazenda. Aparece, ainda, a cachoeira que um dia existiu no açude da fazenda que, no passado distante, destinava-se a funcionar um dos primeiros geradores elétricos daquela região fluminense. Na minha infância, ainda conheci a cachoeira, já muito diferente das fotos, danificada pelo tempo e que hoje desapareceu. Também, mostram a varanda do velho casarão, hoje demolido, o qual conheci muito bem na minha infância.

As ruínas da escadaria e da varanda, debruçada sobre o vale, e a última palmeira imperial (sem copa) remanescente das quatro originais plantadas em renque, foi tudo que restou da antiga e imponente sede do Guaribu, construída em 1817, por Luiz Gomes Ribeiro e sua mulher, Joaquina Mathilde de Assunção Avellar que lá residiram, até o fim de suas vidas. Após a morte do casal, passou a residir no casarão um dos seus filhos, Cláudio Gomes Ribeiro de Avellar, o barão do Guaribu, que morreu solteiro, em 1863. A sede e as terras do Guaribu foram legadas ao seu irmão, João Gomes Ribeiro de Avellar, o visconde da Paraíba, que por sua vez, deixou-a para o filho de mesmo nome. A fazenda vem sendo transmitida ao longo de cinco gerações aos seus descendentes da família Avellar Peralta, até os dias de hoje.  

sábado, 16 de julho de 2011

Olguinha e Mario Biscaia e a Curitiba do Século XX



Meus avós, Olga e Mário Chalbaud Biscaia na, então, tranquila e segura Curitiba dos anos 1940/1950. Nas fotos ao alto, passeando despreocupados pela rua Quinze de Novembro, centro da cidade, em "instantâneos" feitos pelos fotógrafos que costumavam ficar nesta rua tirando fotos inesperadas e entregando seus cartões para vendê-las aos fotografados. Apesar da evolução e dos recursos digitais hoje disponíveis, este costume se perpetuou em diversos eventos e festas da capital, onde os famosos "bigodes" continuam a exercer sua tradicional atividade. Na foto logo acima, o casal dançando no baile de debutantes do Graciosa Country Club, em 1955, quando minha mãe debutou. 

sábado, 30 de abril de 2011

João Gomes Ribeiro de Avellar, o Jaco: Um Empreendedor do Futuro

Porto de Santos - 1870
Embarque de sacas de café no porto de Santos 
Uma das histórias de família mais marcantes que resolvi pesquisar, eu ouvia desde criança, nas habituais idas à fazenda do Guaribu, em Paty do Alferes (RJ), enquanto minha bisavó Herundina – vovó Neném – de Avellar Simões Peralta era viva. A história referia-se ao seu avô, João Gomes Ribeiro de Avellar, filho homônimo do visconde da Paraíba, que herdou do pai a fazenda e foi um dos fundadores da famosa Companhia Docas de Santos, junto com Cândido Gaffré, Eduardo Guinle e outros. Segundo a tradição, logo após a morte de João, a viúva, Emerenciana Calvet Ribeiro de Avellar, foi procurada pelos demais sócios da Companhia Docas de Santos e assinou sua desistência e a venda da participação naquela sociedade, deixando de possuir uma das maiores, mais ricas e prestigiosas empresas do Brasil. Para minha surpresa, as pesquisas revelaram um formidável protagonista do desenvolvimento nacional, no final do século XIX.
Porto de Santos na atualidade 
João Gomes Ribeiro de Avellar, chamado de Jaco pela família até hoje, era conhecido por este apelido. Cursou direito na tradicional Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo,  fazendo parte da turma nº 29. Seu curso acadêmico foi marcado por alguns tropeços. Seu pai, então barão da Paraíba, em 1856, precisou requerer ao senado do Império um ato legislativo para que pudesse fazer exames em atraso do segundo ano. Numa publicação de memórias e reminiscências sobre a Academia das Arcadas, Almeida Nogueira, assim o descreveu: "Fluminense, de Valença; filho do Barão de Parahyba. Alto, corpulento, claro, barba à ingleza. Temperamento expansivo e afectuoso. Inteligência regular, aplicação nenhuma." Colou grau em 19/11/1860 e foi admitido no Instituto da Ordem dos Advogados Brazileiros, em 17/07/1862. Exerceu a advocacia no Rio de Janeiro, por pouco tempo, com escritório na rua da Quitanda, 180. 

Casou-se com Emerenciana Cândida de Magalhães Calvet, em 01/09/1863, em Niterói (RJ). Entre seus padrinhos estava Teófilo Otoni. Tiveram seis filhos: João, em 1864 (o primeiro homônimo do pai, que faleceu ainda criança); Emerenciana (homônima da mãe), em 1866, casada com José Joaquim Barbosa; Leocádia (minha trisavó), em 1869, casada com Arthur Quirino Simões; Adelaide, em 1873, casada com Carlos Grey; João¹ (o segundo homônimo do pai), em 1874, casado com Maria Isabel Lopes Ângelo; e José de Paiva Calvet de Avellar¹ª em 1876, casado com Mildred (Williams) de Avellar. Na antiga capital fluminense, o casal residia na rua Presidente Domiciano, 14.

O Dr. João Gomes Ribeiro de Avellar, como gostava de ser chamado, dedicou-se à política fluminense, sucedendo seu pai, o barão e depois visconde da Paraíba, que chefiou o partido Liberal em Paraíba do Sul, por quase 50 anos. Foi eleito deputado provincial pelo 3.º distrito (sediado em Niterói) nas 15ª e 16ª legislaturas, de 1864 a 1867, tornando-se um dos mais influentes membros do partido Liberal na capital da província. Após a morte do pai, em 1879, herdou parte de suas terras, sendo a principal a fazenda do Guaribu. Possuía, ainda, terras e plantações de café na província de São Paulo.

Aviso de constituição da firma Ribeiro de Avellar & Carvalho, publicada em jornal da época
Em 1876, estabeleceu uma das mais importantes casas comissárias de café do Rio de Janeiro, que funcionou na rua dos Beneditinos, número 30 e, depois, no número 25 (havia uma filial em Niterói, na rua da Praia, 355, São Domingos), com a qual obteve grandes lucros, que proporcionaram recursos para novos investimentos. A partir de 1878 teve como sócio Raul Gomes de Carvalho² (Ribeiro de Avellar & Carvalho). Em junho de 1890, associou-se à Hyppolyto Velloso Pederneiras (Avellar & Pederneiras) o qual, também, integrava a sociedade destinada a exploração do porto de Santos.

Este tetravô, com Eduardo Palassin Guinle, Cândido Gaffré, Alfredo Camilo Valdetaro e alguns outros, obtiveram a concessão nonagenária para exploração e ampliação do porto de Santos, nos estertores da monarquia brasileira, por meio do Decreto nº 9.979 de 12/07/1888, e fundaram a Gaffré, Guinle & Cia., na qual Ribeiro de Avellar detinha a terceira maior participação societária, com 11,25% do capital social. Neste tempo, a lavoura cafeeira fluminense já se achava há algum tempo em lenta agonia e os fazendeiros mais lúcidos começaram a buscar novos negócios. Juntos, estes notáveis empreendedores, anteciparam o futuro e lançaram-se na empreitada, que tornou, os dois primeiros, mitos do capitalismo nacional. A família Guinle será sempre lembrada pelo fabuloso Copacabana Palace.

Não sei ao certo como iniciaram as relações entre J.G. Ribeiro de Avellar e Gaffrée e Guinle. É bem possível que Jaco tenha sido advogado e conselheiro de Gaffré e Guinle em seus negócios, ao tempo que todos eles estavam estabelecidos na rua da Quitanda. Talvez, a amizade tivesse origem em Porto Alegre, por meio das três famílias gaúchas: Gaffré, Guinle e Calvet. O pai de Emerenciana era o jornalista e deputado provincial gaúcho, José de Paiva Magalhães Calvet, notável personagem da Revolução Farroupilha e, mais tarde, oficial maior da secretaria de estado dos negócios do Império. Também procedia de Porto Alegre, o seu sócio tardio nos negócios de café, Hyppolyto Pederneiras.

Certamente, a relação entre os sócios era de sólida amizade e confiança. A reconhecida competência de Gaffré e Guinle como capitalistas e empreendedores, associada ao vasto relacionamento político e o prestígio social de J.G. Ribeiro de Avellar, parecem ter sido os fatores que cimentaram esta sociedade e os animaram a desenvolver diversos negócios em conjunto, alguns dos quais lograram êxito no futuro e outros, nem tanto. A amizade entre as suas famílias era bem anterior ao empreendimento do porto de Santos e estendia-se muito além dos aspectos societários e empresariais. Emerenciana e Jaco eram padrinhos do segundo filho de Guilhermina e Eduardo P. Guinle, Guilherme Guinle, nascido em 1882, o qual mais tarde se tornaria presidente das Docas de Santos.³

O Brasil do início da década de 1890 vivia o período do famigerado encilhamento. O novo governo republicano, tendo Ruy Barbosa como ministro da fazenda, incentivou os empreendimentos com crédito abundante para promover uma aceleração no desenvolvimento econômico e social do país. Neste cenário de novos horizontes, multiplicaram-se as oportunidades de investimentos para capitalistas que tivessem coragem e arrojo para empreender, o que proporcionou um rápido crescimento e a geração de inúmeros negócios que prosperariam no futuro. Contudo, o país acabou desembocando numa crise financeira de graves proporções nos anos seguintes, dadas as combinações negativas de fatores internos e externos, especialmente, a queda vertiginosa dos preços internacionais do café.
 

Aceitando os desafios desse ciclo, J. G. Ribeiro de Avellar, ao lado de Gaffré, Guinle, Raymundo de Castro Maya, Gustavo Etienne, Paulo de Frontin e outros investidores, em assembleia presidida pelo mesmo, fundaram a Empreza Industrial de Melhoramentos no Brazil, cujo principal objetivo era participar das obras e atividades do processo de urbanização e de desenvolvimento viário e portuário nacional, que fora iniciado pelo novo regime republicano e explorar as concessões obtidas individualmente pelos seus sócios. Em fevereiro de 1890, liderados por Ribeiro de Avellar, este grupo de empresários apresentou às autoridades cariocas um projeto para construção de um novo cais entre a ponta da Saúde e a ponta do Caju, que foi aprovado em junho e cuja concessão foi outorgada à companhia em outubro do mesmo ano e se transformou no novo porto do Rio de Janeiro.

Em setembro daquele ano, essa mesma empresa, numa sociedade com Antonio Proost Rodovalho, constituiu a Companhia Melhoramentos de São Paulo, que consistia num complexo empresarial formado por fazendas, caieiras, pedreiras, olarias, madeireiras e fábricas de papel, destinadas a participar do processo de construção da infra-estrutura para o desenvolvimento do estado de São Paulo, que já crescia a passos largos. A Empreza Industrial de Melhoramentos no Brazil foi acionista de empresas de transportes urbanos (bondes) no Rio de Janeiro (Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico) e em Niterói. A companhia foi proprietária das ferrovias que ligavam Paraíba do Sul ao Rio de Janeiro, vendidas à E.F. Central do Brasil, em 1903.


Rua São Clemente, com o Corcovado ao fundo - anos 1890
Outra empresa inovadora que fundaram foi a Cia. Brasileira Torrens que, entre outros objetivos, se destinava a promover o uso do sistema Torrens no Brasil. Este sistema de registro imobiliário rural, utilizado na Austrália há mais de cem anos, vigorou no Brasil por um tempo curtíssimo, adotado por Ruy Barbosa durante o primeiro governo provisório republicano. Curiosamente, Ruy Barbosa adquiriu em 1893, a casa ao lado da que era residência de João Gomes Ribeiro de Avellar, na Rua São Clemente, 128, no bairro carioca de Botafogo. O grande jurista baiano residiu no número 134 que, hoje, abriga a Fundação Casa de Ruy Barbosa. Cândido Gaffré morava no número 145 e Eduardo Guinle, no 143, todos na mesma rua.

Ribeiro de Avellar, contudo, faleceu precocemente, vítima da typhica (febre tifóide), em novembro de 1890, com cinqüenta e quatro anos de idade. Havia iniciado negócios que frutificariam e transformariam seus sócios em magnatas, lendas do capitalismo brasileiro da primeira metade do século XX. A Companhia Docas de Santos tornou-se uma das maiores empresas do continente e o porto de Santos, o mais importante da América Latina, até os dias de hoje. A Companhia Melhoramentos de São Paulo, também, transformou-se num gigante econômico. Como ele previra, São Paulo foi a locomotiva do Brasil e seus investimentos foram acertados e benéficos para o desenvolvimento nacional. O estado paulista floresceu e o vale do Paraíba fluminense feneceu, pela mesma causa: o café. Ribeiro de Avellar, um homem de larga visão, vinha transferindo seus investimentos em comércio cafeeiro para essas novas atividades mais promissoras e rentáveis. Se, de um lado, isso trazia excelentes perspectivas para o futuro, de outro, criava um grande endividamento naquele momento para financiar os novos empreendimentos e sustentar os velhos negócios do café, que enfrentariam uma grave crise internacional, durante a década de 1890.         

Sede da fazenda do Guaribu em meados da década de 1930
A viúva meeira, Emerenciana, com filhos menores, abalada com o falecimento prematuro e, como a maioria das mulheres da época, alheia aos detalhes e complexidades dos negócios do marido, teria sido aconselhada a liquidar a parte de João Gomes Ribeiro de Avellar na sociedade, deixando de participar do surgimento de um dos maiores conglomerados econômicos da América. Ela faleceu pouco depois do marido, em janeiro de 1891 e, segundo a tradição familiar, abatida pela perda de Jaco, morreu de amor. ³ª

Convite para a missa de sétimo dia de Emerenciana, mandada celebrar por Eduardo P. Guinle e sua esposa, em Petrópolis (RJ).

A amizade entre os Avelar, os Gaffré e os Guinle perdurou ainda algum tempo. Em 04/09/1891, no casamento de meus trisavós, Leocádia Calvet de Avellar e Arthur Quirino Simões, foram seus padrinhos Cândido Gaffré e Eduardo Guinle, assinando os termos civil e religioso. Antes disso, sociedade Gaffré, Guinle & Cia. foi comanditária em um negócio de comércio de tecidos que meu trisavô Arthur Quirino Simões manteve com seu irmão Olegário Quirino dos Santos (Quirino Irmaõs & Cia.) a partir de 1885, na rua da Quitanda, 11 (depois no número 62). É muito provável que esse negócio fosse sucedâneo da casa de tecidos Aux Tuileries, onde Gaffré e Guinle começaram suas vidas como comerciantes no Rio de Janeiro, situada no mesmo local. A despeito da ação que foi movida pelos herdeiros contra a Gaffré, Guinle & Cia, meu trisavô ocupou cargos nesta, ao longo das décadas de 1900 e 1910 e o casal Leocádia e Arthur continuou mantendo boas relações com as famílias dos ex-sócios de Jaco.

Convite para missa que foi celebrada na fazenda do Guaribu, quando do falecimento de Cândido Gaffré.

Em 1903, os herdeiros buscaram na justiça a anulação da desistência da participação societária, por meio de uma ação que tramitou por quatorze anos e foi encerrada, sem êxito, no Supremo Tribunal Federal. O ministro Pedro Lessa foi o relator da decisão unânime, publicada em 18/08/1917. Neste julgamento, os ministros José Luiz Coelho e Campos e Sebastião de Lacerda, este último parente próximo da família Avellar, declararam-se impedidos. 

A dissolução parcial da sociedade havia sido assinada em 26/12/1890, pelo procurador da viúva inventariante, o advogado Antonio Tiburcio Figueira. Os haveres da liquidação das quotas sociais foram entregues em pagamento ao maior credor de Ribeiro de Avellar, o Banco do Brasil, que financiava seus negócios, antigos e novos. Isso pode explicar a decisão da viúva sobre a desistência da participação societária, que seu marido possuía nas Docas de Santos. Como ainda decorreriam alguns anos até que estes negócios amadurecessem e se tornassem lucrativos, sua opção deve ter sido a de conservar o patrimônio que já possuía, como a fazenda do Guaribu, que foi herdada por minha trisavó Leocádia, permanecendo até hoje com os descendentes do casal Ribeiro de Avellar.

Agradeço aos bibliotecários da National Library of Australia e da LaTrobe University, em Victoria, Australia, por valiosas informações sobre esta história que, curiosamente, não estão disponíveis no Brasil. 
   
¹ João Gomes Ribeiro de Avellar (o segundo filho homônimo de Jaco) era funcionário do Banco do Brasil. Faleceu na cidade de São Paulo, em novembro de 1918, aos 44 anos de idade, durante a pandemia de gripe espanhola, juntamente com dois de seus quatro filhos: Maria José Ribeiro de Avellar, 19 anos; e, Angelo Ribeiro de Avellar, 20 anos.   
¹ª José de Paiva Calvet de Avellar faleceu no Rio de Janeiro, em março de 1937. Sua esposa, Mildred (Williams) de Avellar, era cidadã americana, nascida em Clinton, N.Y, em 31 julho de 1895, e falecida no Rio de Janeiro, em 4 de julho de 1985. O casal residiu na cidade de Nova Iorque entre 1917 e o começo da década de 1930, onde nasceram seus filhos: Richard de Avellar, Delza de Avellar (Sullivan) e Ruby de Avellar (Moore), alguns dos quais voltaram a viver nos EUA. 
² Raul Gomes de Carvalho, o primeiro sócio de Jaco nos negócios de café, era filho do barão do Rio Negro, cuja residência  em Petrópolis (RJ), o Palácio Rio Negro,  foi adquirida pelo governo federal no início do século XX e tornou-se a residência de verão dos presidentes da República. A casa anexa ao palácio, que pertencia ao próprio Raul, também, foi adquirida e faz parte do mesmo conjunto.
³ Embora, ainda, não tenha encontrado a certidão de óbito de Emerenciana, tudo indica que ela faleceu, também, em decorrência da febre tifoide. É certo que a própria intimidade conjugal favorecesse o contágio. Além disso, muito curiosamente, as descrições dos sintomas de Emerenciana no seu leito de morte, que ouvi de meus avós e tios-avós, os quais ouviram da trisavó Leocádia (fraqueza extrema, prostração e inanição, como se estivesse definhando) e que podem ter sido interpretados apenas como grande sofrimento pelo súbito falecimento de Jaco, coincidem exatamente com as características da febre tifoide. Porém, todos nós, seus descendentes, em homenagem à sua memória, que amamos, preferimos acreditar que ela, simplesmente, morreu de amor por seu Jaco.  
³ª Guilherme Guinle foi batizado em 25/06/1882, no Rio de Janeiro, na igreja de São João Batista da Lagoa, pelo padre Ladislau Adolfo Sales e Silva, coadjutor do vigário Monsenhor Francisco Martins do Monte, com assentamento no livro 9, fls. 62. (transcrito do livro "Guilherme Guinle (1882-1960) ensaio biográfico", de Geraldo Mendes Barros; Livraria Agir Editora, 1982; pág. 4).         

quinta-feira, 21 de abril de 2011

João Gomes Ribeiro de Avellar, o visconde da Paraíba

O visconde da Paraíba



O solar da fazenda Boavista, residência de João Gomes Ribeiro de Avellar e sua família, em Paraíba do Sul (RJ).
O palacete do visconde da Paraíba, no centro da cidade de Paraíba do Sul (RJ)

João Gomes Ribeiro de Avellar, depois barão e visconde da Paraíba, nasceu em 07/01/1805, na freguesia de Santa Rita, na cidade do Rio de Janeiro, filho de Luiz Gomes Ribeiro e de Joaquina Mathilde de Assumpção Avellar. Era, ao mesmo tempo, neto materno e sobrinho-neto paterno do tenente Antonio Ribeiro de Avellar, que fundou as fazendas Pau Grande e Guaribu e foi testemunha de defesa de Tiradentes nos "autos de devassa". A família Ribeiro de Avellar era uma das maiores proprietárias de terras e produtoras de café, no vale do Paraíba fluminense. 

João Gomes Ribeiro de Avellar casou-se, em 15/11/1831, com Carolina Rosa de Azevedo, com quem teve cinco filhos: Rosa, Carolina, Manuel Joaquim, João (homônimo do pai e meu tetravô) e Luis. A fazenda da Boa Vista, onde residiam, situada em Paraíba do Sul (RJ), surgiu da união de duas sesmarias, concedidas pela coroa portuguesa em 1811: Cachoeira da Boavista e Surubiquara. O capitão Manuel Joaquim de Azevedo adquiriu ambas, transformando-as em uma única propriedade, onde fez construir um grande engenho de açúcar e cultivou cana. Após sua morte e da esposa, a fazenda foi herdada por sua única filha Carolina Rosa e seu genro, João Gomes Ribeiro de Avellar, que a transformou em grande produtora de café.

O solar da Boavista foi construído em 1834 e recebeu sucessivos melhoramentos. Em 1860, construiu um palacete na vila de Paraíba de Sul, onde ocorreram muitas reuniões políticas do Segundo Império. Os salões de suas casas receberam importantes personagens, principalmente do Partido Liberal, que Ribeiro de Avellar liderou naquela região fluminense por quase meio século. Seu opositor, Hilário Joaquim de Andrade, o barão de Piabanha, chefiava o Partido Conservador. O visconde era considerado "um homem de grande firmeza de caráter, discreto e que tratava cordialmente seus adversários". Teve papel relevante no auxílio aos habitantes de Paraíba do Sul quando da epidemia de cólera, em 1855.

Exerceu a presidência da Câmara Municipal de Paraíba do Sul, cargo equivalente ao de prefeito da época. Foi coronel-chefe da 8.ª Legião da Guarda Nacional, sediada em Paraíba do Sul, nomeado em 30/10/1841. Por duas vezes, foi vice-presidente da província do Rio Janeiro, designado em 10/08/1848 e em 01/06/1864. Deputado provincial na primeira legislatura, em 1835, e em outras seguintes. Foi fundador do Clube da Lavoura do Rio de Janeiro. O título de barão da Paraíba foi-lhe concedido em 30/12/1858 e o de visconde, em 04/03/1876. Dois irmãos seus foram, também, titulares do Império: Cláudio, o barão do Guaribu; e Paulo, o barão de São Luis.

O visconde da Paraíba faleceu em 12/01/1879, na sua fazenda da Boavista. Havia fundado ou herdado diversas outras fazendas, num total de 1.625 alqueires de terras. A Boavista foi herdada por seu filho Manuel Joaquim de Azevedo Avellar, bacharel em direito e adido de legação na Europa, por seu filho homônimo João, conhecido por Jaco e, por seu genro, Luiz Carlos Mariano da Silva, que a venderam ao governo imperial, o qual pretendia ali instalar uma hospedaria para imigrantes, o que ocorreu depois da proclamação da República. Atualmente, o velho solar da fazenda, muito bem conservado, pertence a particulares.

Notícia da venda da fazenda Boa Vista ao governo imperial (Revista de Engenharia - 1889).
O filho homônimo do visconde, João Gomes Ribeiro de Avellar, o Jaco, meu tetravô, recebeu ainda, as terras das fazendas do Guaribu e Guaribu Velho. Jaco casou-se com Emerenciana Magalhães Calvet de Avellar e foram pais de minha trisavó, Leocádia Calvet de Avellar, que se casou com Arthur Quirino Simões. Por meio da filha, Herundina de Avellar Simões, casada com Valdomiro Villet  Peralta, transmitiram a fazenda do Guaribu à família Peralta. Em seus últimos anos de vida, o visconde estava desalentado com os rumos da cafeicultura, especialmente, na província do Rio de Janeiro. Antevendo os acontecimentos que determinariam o fim do ciclo fluminense do café e o declínio da economia rural da região e dos fazendeiros, em seu testamento ditado na Boavista, em 13/06/1876, recomendou aos seus filhos que se afastassem da agricultura, advertindo-os que “seu futuro como lavradores era medonho”.

Dez anos após a sua morte, a decadência econômica do vale do Paraíba fluminense já era visível. A exaustão do solo pelo cultivo extensivo de café, ao longo de décadas, com técnicas rudimentares, e a contínua expansão do seu plantio nas adequadas e férteis terras paulistas, deslocou definitivamente o pólo da produção cafeeira para o sul do Brasil, avançando até o norte do Paraná, na primeira metade do século XX. Além disso, sucessivas superproduções de café, aviltaram os preços na última década do século XIX, levando muitos cafeicultores e empresas à ruína. Conforme ele temia, a civilização do café fluminense, que trouxera consigo riqueza, prosperidade e fastígio para a região por mais de meio século, havia terminado. As fazendas da Boavista e do Guaribu foram testemunhas e palcos do apogeu e da derrocada desta era, sendo que esta última, ainda pertence aos seus descendentes, da família Peralta, após mais de duzentos anos de sua fundação.  

Agradeço ao pesquisador e conterrâneo, Roberto Menezes de Moraes, por informações do testamento e a foto do visconde.

sábado, 9 de abril de 2011

Família Peralta: As Origens Portuguesas


Meu trisavô, o médico Antonio Botelho Peralta, patriarca do nosso ramo fluminense da família Peralta no Brasil¹.
Os pais de Antonio Botelho Peralta: Josefa Tommasia e Alexandre Botelho Peralta
Theresa de Jesus e Luiz Botelho Peralta, irmão de Antonio Botelho Peralta
Margarida Peralta, mãe de Atalives Peralta Pimenta, o primo português
Atalives Peralta Pimenta, o primo distante português, defronte a casa em que nasceu meu trisavô, em Mirão, Resende, no Viseu, berço dos nossos antepassados 

Como disse antes, a história - de família ou não -, nos reserva muitas surpresas e dúvidas.  Tive a grande satisfação de receber as fotos acima, enviadas pelo sempre atencioso primo português, Atalives Peralta Pimenta, descendente dos nossos ancestrais comuns. Estas fotos revelam o que quase todos na nossa família brasileira desconheciam até agora: as faces dos antepassados portugueses, especialmente, do patriarca do nosso ramo fluminense da família Peralta no Brasil, o médico Antonio Botelho Peralta, meu trisavô.  

Para surpresa ainda maior vieram, também, fotos dos pais de Antonio Botelho Peralta, ou seja, meus tetravós. Embora não tenham data, provavelmente, são fotos das décadas de 1840 e 1850, pois, sabe-se que a tetravó Josefa Tommasia faleceu prematuramente em 1847, conforme os documentos que o primo português enviou, e que o Dr. Peralta deixou Portugal entre os anos de 1857 e 1858. Atalives relata ainda alguns fatos curiosos, que precisamos pesquisar melhor, sobre os motivos da vinda de Antonio Botelho Peralta ao Brasil.  

Parece que,  ao concluir seu curso na escola de medicina do Porto, Antonio teria deixado seu país pelo amor de sua mulher, Maria Adelaide de Burgos Chapuzet Villet, a qual não contava com a aprovação do seu pai, pois preferia uma namorada que ele tinha na sua região natal, falecida em seguida ao seu desaparecimento. Segundo a tradição familiar dos que permaneceram em Portugal, Alexandre Botelho Peralta, o pai de Antonio, nunca soube de seu destino e percorreu seu país inteiro em busca dele, em vão. Muitos pensavam que ele tivesse sumido em algum naufrágio nas águas do Douro, principal via de ligação entre a cidade do Porto e Resende, na ocasião. Alexandre Botelho Peralta teria morrido demente, atormentado pelo inexplicável desaparecimento do filho. Durante gerações, não houve qualquer notícia do seu paradeiro, até quando iniciei a correspondência com os distantes parentes portugueses. Uma história a ser pesquisada. 

As demais fotos, publico em homenagem aos parentes que remanesceram em Portugal. Luiz Botelho Peralta, o único irmão de Antonio, casado com Theresa de Jesus, deram continuidade à família Peralta naquela região de Portugal. Alguns descendentes de Theresa de Jesus e Luiz Botelho Peralta, emigraram para o Brasil nas primeiras décadas do século XX, estabelecendo-se em Santos, no litoral paulista. 

Num agradecimento ao esforço e à atenção do primo Atalives, que mandou-me estas fotos únicas e outros importantes documentos do passado, apresento a foto de sua mãe, Margarida Peralta, neta de Luiz Botelho Peralta, que rezava diariamente pela alma do tio-avô desaparecido. Na foto logo acima, o próprio Atalives, quem me ajudou a esclarecer nossas origens portuguesas. 

¹ N.B.: Sempre é preciso ressaltar que existem incontáveis famílias com sobrenome Peralta no Brasil e alhures que, por óbvio, não descendem das mesmas pessoas e não têm origem nos mesmos lugares. Neste blog cuido, exclusivamente, do ramo brasileiro da família Peralta que tem por ascendente comum o médico Antonio Botelho Peralta, filho de Josefa Tommasia e Alexandre Botelho Peralta, nascido em 1833, em Mirão, na vila de Resende, em Portugal, onde viveram seus pais e avós. Foi casado com Maria Adelaide de Burgos Chapuzet Villet, nascida em 1837, na cidade do Porto e filha de Ludgero José Villet e Rosa Adelaide de Burgos. O casal veio para o Brasil entre 1857 e 1858 e estabeleceu-se na região de Paty do Alferes (RJ), onde hoje se situa o município fluminense de Miguel Pereira.  Ambos faleceram em 1900, na cidade de Paty do Alferes, no estado do Rio de Janeiro. 

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Antonio Botelho Peralta e Joaquim Teixeira de Castro: Dois Médicos Portugueses

Ruínas da freguesia de Santana das Palmeiras - Serra do Tinguá - Nova Iguaçu (RJ)

Algumas das questões que suscitaram dúvidas em minhas pesquisas sobre o trisavô Antonio Botelho Peralta foram: o motivo de sua vinda para o Brasil e a época correta de sua chegada. Em geral, além das imigrações em grande escala para a colonização, como ocorreu no sul do Brasil, no século XIX, com os alemães, italianos, poloneses e outras etnias europeias e orientais, as pessoas só deixavam seu torrão natal, voluntariamente, por motivos muito poderosos como a miséria, as guerras, as perseguições políticas ou religiosas e, mais raramente, por uma boa oportunidade de trabalho ou negócios. No caso de meu trisavô Peralta, que era médico-cirurgião, a última opção é a mais provável.

Pelo menos num livro em que pesquisei, o autor afirma que foi Antonio Botelho Peralta quem convidou o médico Joaquim Teixeira de Castro – depois, visconde de Arcozelo¹ – para vir ao Brasil exercer a profissão na região de Paty do Alferes. Sabe-se que, na segunda metade do século XIX, a região da serra fluminense e do vale do Paraíba vinha prosperando muito com um comércio variado e a cultura extensiva de café em grandes fazendas. Neste cenário, os cuidados da medicina eram cada vez mais demandados na região, o que oferecia boas oportunidades de trabalho para estes profissionais. E foi o que se deu com ambos.

Joaquim Teixeira de Castro, nasceu na cidade do Porto, em 1825. Há uma referência de que em 1849 já estivesse no Brasil, como médico residente da fazenda Monte Alegre, do barão de Paty do Alferes. Outras fontes, dão conta que teria chegado em 1853, para esta mesma função. O fato, certo e incontroverso, é que ele se casou, em 25/07/1855, com Maria Isabel Peixoto de Lacerda Werneck, filha dos barões de Paty. 

Antonio Botelho Peralta, também nasceu em Portugal, na vila de Resende, no Viseu, em 1833. Em 1855, ainda cursava a Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde concluiu seus estudos e diplomou-se em 14 de setembro de 1857. Assim, não seria possível que o Dr. Peralta convidasse Teixeira de Castro para vir ao Brasil, pois, este já se encontrava aqui antes de sua diplomação. Deu-se, talvez, o contrário e tenha sido o futuro visconde quem convidou meu trisavô a vir trabalhar no Brasil? Seria possível, ainda, que tivessem se conhecido na escola de medicina do Porto, em períodos diferentes de estudo e Teixeira de Castro tenha vindo antes e convencido Peralta a vir anos depois? Ou, teriam eles se conhecido anteriormente em Portugal?

Meu trisavô, com toda certeza, chegou ao Brasil entre os últimos meses do ano de 1857 (logo após sua diplomação) e os primeiros meses de 1858, junto com sua esposa, Maria Adelaide de Burgos Chapuzet Villet. Na página 119, da edição do ano de 1859 do famoso Almanak (elaborado com os dados disponíveis do ano anterior) que era publicado anualmente pelos irmãos Laemmert desde 1844 até 1889, consta que o Dr. Antonio Botelho Peralta era o único médico na então próspera freguesia de Santana das Palmeiras, na serra do Tinguá, situada ao longo da estrada do Comércio, no antigo município de Iguassu (RJ). Mais tarde, o Dr. Peralta e o visconde de Arcozelo tornaram-se, também, fazendeiros de café.

Seja como for, a amizade entre estes dois médicos e suas famílias foi verdadeira e histórica em Paty do Alferes. A viscondessa de Arcozelo, no conhecido diário que escreveu, refere-se ao Dr. Peralta, o médico da família, como compadre³ e relata a grande proximidade das duas famílias e as frequentes visitas do casal Werneck Teixeira de Castro e seus filhos à vizinha fazenda Pantanal², propriedade da família Peralta.


¹ Joaquim Teixeira de Castro foi nomeado visconde de Arcozelo, pelo rei de Portugal, Dom Luís I, por decreto de 13/05/1874. Cf. Wikipedia. 
² No local onde existia a Fazenda Pantanal, em Miguel Pereira (RJ), hoje funciona a Escola Municipal Pantanal, em homenagem à memória do Dr. Peralta e sua família. 
³  A viscondessa de Arcozelo era madrinha de batismo de meu bisavô Valdomiro Villet Peralta, batizado na matriz de Nossa Senhora da Conceição de Paty do Alferes, em junho de 1878. Nesta cerimônia, o visconde de Arcozelo, representou por procuração, Ludgero José Villet, que era o padrinho do meu bisavô.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Família Peralta, Villet¹ e Chapuzet: Uma História Entre Dois Mundos

Quanto mais mergulhamos na história, mais dúvidas e surpresas encontramos, mesmo na história de família. Recebi de um primo distante e atencioso, Atalives Peralta Pimenta, que reside na vila de Resende, em Portugal, cópia certificada do diploma do trisavô Antonio Botelho Peralta, expedido em 1857, pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Enviou, ainda, informações do arquivo distrital do Viseu sobre os pais do meu trisavô, Josefa Tommasia e Alexandre Botelho Peralta e sobre o seu único irmão, Luiz Botelho Peralta, nascido em 1829, que permaneceu em Portugal. Por muito tempo, minhas informações eram quase todas havidas da tradição familiar, muitas vezes incompletas ou imprecisas, como a que dava como certo que este trisavô havia se formado na Universidade de Coimbra, até que encontrei o registro do seu diploma no Brasil.

Quanto ao trisavô Antonio Botelho Peralta, é certo que veio de Portugal casado com Maria Adelaide de Burgos Chapuzet Villet, nascida na freguesia de Santo Ildefonso, na cidade do Porto. Era filha de Ludgero José Villet e Roza Adelaide de Burgos. Ludgero José Villet era sobrinho, por parte de mãe, do brigadeiro João da Matta Chapuzet. Ludgero José Villet, pai, foi oficial de infantaria do exército português. Esteve expatriado em Bruges e Ostende, na Bélgica, e em Dunquerque, na França, entre 1828 e 1833, junto com seu tio materno, então coronel, João da Matta Chapuzet, durante o período da guerra civil, que se seguiu à usurpação por D. Miguel, do trono de D. Maria II, filha de D. Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal), a quem juraram lealdade. Voltou a Portugal, no início de 1833, estabelecendo-se na cidade do Porto e casou-se com Roza Adelaide de Burgos.    

João da Matta Chapuzet, irmão da mãe de Ludgero José Villet, foi um renomado engenheiro e arquiteto militar do seu tempo. Combateu na guerra peninsular contra a ocupação napoleônica, quando foi muito condecorado. Em 1816, foi promovido de major à tenente coronel, servindo junto ao Quartel Mestre General, o chefe do estado maior do Exército. Em 1821, comandava o Forte de São Julião da Barra, a maior fortificação marítima portuguesa. Foi nomeado, por Dom João VI, governador de Cabo Verde, entre 1822 e 1826. Era engenheiro e arquiteto militar e foi responsável por uma grande modernização na capital do arquipélago, a cidade da Praia. Durante este período, o alferes Ludgero José Villet, era o ajudante de campo do governador, tendo acompanhado João da Matta Chapuzet por um longo período em seu serviço militar. Seu último cargo público foi o de governador militar de Elvas, a maior cidade fortificada da Europa, entre 1838 e 1840. O brigadeiro João da Matta Chapuzet nasceu na freguesia da Lapa, em 1777, em Lisboa, onde faleceu, em 08/08/1842.

¹ Nos registros militares de Ludgero José Villet, nos arquivos do Exército português, seu nome consta com as seguintes grafias: VilletVillete, Villeti e Vilete. Em pelo menos um documento militar que consultei, Ludgero assinava de próprio punho seu sobrenome como Villete. No registros de nascimento e de casamento da trisavó Maria Adelaide o sobrenome dela e de seu pai, Ludgero constam como Villet. 

P.S.: Este post foi atualizado em vista das pesquisas realizadas em Portugal, na Biblioteca Nacional, e pelos documentos enviados pelo primo Atalives Peralta Pimenta, os quais revelaram que Ludgero José Villet era sobrinho de João da Matta Chapuzet, filho de sua irmã, Marianna Gertrudes Chapuzet Villet, nascida na cidade de Lisboa. Ao longo de sua carreira militar, Ludgero José Villet acompanhou o tio em vários cargos e no seu exílio de cinco anos, durante o período da usurpação do trono português por D. Miguel. Ludgero José Villet foi oficial do exército de Dom Pedro IV e combateu ao lado deste na revolução liberal do Porto. Foi transferido para a reserva no posto de capitão.  

a) Um irmão de Maria Adelaide, homônimo do pai, Ludgero José Villet, também, veio para o Brasil. No Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição de 1863, na página 639, consta que havia uma fábrica de cigarros e charutos, sob firma de Ludgero José Villet & Cia., na rua de Bragança, número 5). Este irmão casou-se em agosto de 1868, em Niterói, com Emília Mercês de Freitas. Ele faleceu em julho de 1884, aos 43 anos, vítima de tuberculose.

b) Em minhas pequisas encontrei Luiz de Burgos Villet que, em 1900, servia na brigada policial do Distrito Federal. Faleceu no Rio de Janeiro,tendo sido sepultado no cemitério do Carmo, em 23/12/1920. Não tenho qualquer informação de quem ele seria. Possivelmente seria sobrinho da trisavó Maria Adelaide, talvez filho de seu irmão Ludgero, referido acima.