sábado, 30 de dezembro de 2017

Dezembro de 2017: Cem Anos de Dyrce Miranda Peralta

Dyrce Miranda, em foto de 1935, ainda noiva de meu avô, Arthur Carlos Peralta, a quem dedicou a foto.  
Nos EUA, na porta do apartamento da Connecticut Avenue, 4600, em Washington, D.C., onde residiram entre 1961 e 1963.

Com seus filhos, em 1948, em Curitiba, na casa da rua Acyr Guimarães, próxima à futura praça do Japão.

A bordo de um navio, no porto de Buenos Aires,  no início da década de 1950. 
Numa recepção diplomática, em 1962, em Washington, DC.
Na escadaria frontal do casarão da fazenda do Guaribu, com as cunhadas, em meados dos anos 1930. 
À frente do meu avô, recepcionando o governador do Paraná, Paulo Pimentel, no baile do dia da Independência, no Círculo Militar do Paraná, em 1966.

Não há como terminar esse ano sem lembrar dos 100 anos de nascimento de minha avó paterna, Dyrce Miranda Peralta, completados em 19 de dezembro de 2017. Convivi muitos anos com ela e tenho as melhores recordações deste longo convívio, com quem aprendi muito e de quem guardo enormes saudades, bem como de minha avó materna Olga Soffiatti Biscaia

Ambas, para minha sorte e dos meus familiares foram longevas e deixaram saudades, além de filhos, netos e inclusive bisnetos, que as conheceram. Dyrce nasceu e faleceu em Niterói (RJ), cidade que amava. Era filha do capitão-de-fragata Álvaro Miranda, oficial da Marinha do Brasil e de Armanda Gomez Cummings, cidadã britânica nascida em Gibraltar, filha de militar britânico. Viverá para sempre nas minhas lembranças e nas de todos que puderam privar de sua companhia.      

domingo, 26 de novembro de 2017

Uma Emboscada para Guilherme Klüppel


Telegrama do coronel Carlos Pioli, publicado no jornal  A República, comunicando o assassinato de Guilherme Klüppel.
Reportagem do jornal Diário da Tarde, em 18/08/1911, sobre a emboscada contra Willy Klüppel.  
Os gêmeos Rosa e Willy Klüppel em fins da década de 1880 - Fotógrafo H.A. Volk
Guilherme (Willy) Klüppel na primeira década do século XX (foto que pertencia ao acervo de minha avó Olga Soffiatti Biscaia)
Minha avó, Olga Soffiatti Biscaia sempre contava histórias de família, que eu ouvia com especial atenção e interesse. Aliás, quando pesquiso sobre as histórias que minha avó contava, sempre confirmo que o teor de todas eram o relato da verdade, sem exageros ou invenções. Uma história que era sempre repetida tratava do assassinato de tocaia de seu tio, Guilherme Klüppel, chamado Willy pela família e irmão gêmeo de sua mãe, Rosinha Klüppel Soffiatti. Os gêmeos eram os filhos caçulas de Carolina Nicolau Klüppel.

Nessa história, minha avó contava que Willy Klüppel exercia o cargo de "delegado calça-curta" em Itaperuçu, como eram chamados os subcomissários de polícia, nomeados pelo governador do estado (que na época tinha o título de presidente do estado). Esses cargos políticos eram confiados aos correligionários dos chefes partidários regionais. Guilherme era filiado ao Partido Republicano Paranaense e o coronel Carlos Pioli era o chefe político regional de Rio Branco do Sul, município onde se situava a localidade de Itaperuçu¹ na ocasião. O coronel Pioli foi prefeito daquele município, mais tarde deputado estadual em várias legislaturas, tendo sido um influente líder político no Paraná, durante a República Velha. 

Willy Klüppel foi nomeado subcomissário em Itaperuçu em 1911 e, antes, exercera o mesmo cargo no município de Cerro Azul. A politica partidária naquela região e em muitos outros rincões do Paraná e do Brasil durante a República Velha, envolvia disputas violentas e, não raro, assassinatos de adversários e inimigos. A morte de Guilherme Klüppel, em 17 de agosto de 1911, aconteceu nesse cenário de violência política regional e foi comunicada por telegrama do coronel Carlos Pioli, ao jornal A República, órgão do Partido Republicano Paranaense.

Segundo a reportagem do jornal Diário da Tarde de 18/08/1911, feita com base no relato do subcomissário de polícia da capital, Francisco Nascimento, encarregado da investigação do crime, Willy Klüppel havia deixado sua casa em Itaperuçu com destino à estação ferroviária de Rio Branco do Sul. Lá, supervisionou o embarque de uma carga de madeira e lenha para a capital e para vila Deodoro (hoje Piraquara) onde seu pai, Nicolau Klüppel comercializava lenha e beneficiava madeira. Willy Klüppel e seu cunhado, meu bisavô Guerino Soffiatti, extraíam e comercializavam madeiras em Itaperuçu.

Após o embarque das mercadorias, regressando a sua casa em Itaperuçu, foi atingido por um de dois tiros de emboscada, disparados de um matagal à beira da estrada. O cavalo em que montava, assustado com os tiros, saiu a galope solto até o povoado de Itaperuçu, onde várias pessoas cercaram o animal e o pararam, tentando socorrer Willy. Gravemente ferido, este não resistiu e veio a falecer às 10 horas da manhã. Segundo o jornal, seria esta terceira tentativa contra a vida de Willy Klüppel em pouco tempo e sempre de emboscada. Houve outras tentativas, quando ainda exercia o cargo em Cerro Azul.

As investigações apontaram que o crime foi praticado por uma pessoa contratada por seus adversários políticos, mas, desconheço a conclusão do inquérito ou mesmo se alguém foi punido pelo crime.

Minha avó contava que sua mãe Rosinha, gêmea de Willy Klüppel, tivera um horrível pesadelo na noite que antecedeu ao crime - disse que sonhara com o diabo -, o que a fez acordar assustada no meio da madrugada. Poucas horas depois, vieram bater na porta de sua casa para comunicar-lhe o trágico acontecimento.

Guilherme Klüppel nasceu em Curitiba, em 12/10/1884 e faleceu com 26 anos de idade. Foi casado com Alayde² Rodrigues teve duas filhas: Amélia e Aracy Klüppel. Amélia faleceu com um ano de vida, vítima de crupe.

¹ O município de Itaperuçu foi criado pela Lei Estadual nº 9.437 de 09/11/1990 e seu território foi desmembrado de Rio Branco do Sul. A instalação deu-se em 01/01/1993.  
² Alayde Rodrigues foi batizada como Alaida, conforme assento de batismo da Matriz de Curitiba, em 25/09/1888, filha de Severino José Rodrigues e Amélia Cordeiro Rodrigues.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

José de Paiva Calvet de Avellar

José de Paiva Calvet de Avellar
(Foto do acervo de seus familiares)
Técnicos brasileiros e americanos da Madeira-Mamoré Railway, visitam as obras em 1910. José é o mais alto de terno escuro e chapéu claro. (Foto de Dana Merril, fotógrafo oficial da ferrovia - Arquivo Digital da Biblioteca Nacional)   

José, Mildred e seus filhos Ruby, Delza e Richard de Avellar
(Foto do acervo de seus familiares)
Mildred, José, filhos e amigos
(Foto do acervo de seus familiares)
Aviso do falecimento de José no jornal A Noite, de 19/03/1937. Convidam para o seu sepultamento, além de Mildred e filhos; o médico Carlos Grey, seu cunhado, viúvo de sua irmã Adelaide de Avellar Grey; Gentil França, casado com Esther de Avellar Barbosa França e Mario Affonso de Avellar Barbosa, ambos filhos de sua irmã Emerenciana de Avellar Barbosa.    

As minhas pesquisas de genealogia familiar aos poucos foram revelando alguns parentes que o tempo, a distância e o crescimento das famílias afastaram das nossas memórias familiares. Um deles é José de Paiva Calvet de Avellar, filho de Emerenciana Calvet de Avellar e João Gomes Ribeiro de Avellar, o Jaco. Era o irmão mais novo de minha trisavó Leocádia Calvet de Avellar Simões. Nasceu em Niterói (RJ), em 08/07/1876 e foi batizado na matriz de São João Baptista, em 15/06/1877. É possível que, após o falecimento dos seus pais, quando tinha 15 anos, José tenha ficado sob os cuidados de sua irmã mais velha, Emerenciana (que tinha o mesmo nome da mãe) a qual se casou, em 29/06/1895, com José Joaquim Barbosa, que foi diretor da conhecida Fábrica de Tecidos Confiança.    

José de Paiva Calvet de Avellar, ou simplesmente José de Avellar, como era mais conhecido, ganhou seu nome em homenagem ao seu avô materno, José de Paiva Magalhães Calvet, ilustre líder farroupilha gaúcho, deputado e oficial maior da Secretaria de Estado dos Negócios do Império, nascido em 1808, em Porto Alegre e falecido precocemente em 1853, no Rio.

Minhas pesquisas revelaram que José esteve durante um longo período (entre 1904 até perto de 1915) na Amazônia, especialmente em Manaus, onde, entre outras ocupações, foi procurador geral da empresa responsável pelas obras da famosa Madeira-Mamoré Railway*. É referido como sendo engenheiro, em algumas notícias da época. Em outras, seu nome é precedido do título de major, talvez, da Guarda Nacional, cuja concessão era comum a personalidades de destaque, no Império e na República Velha.

Foi dos principais responsáveis pela coordenação das cerimônias de inauguração do terceiro trecho da ferrovia, em setembro de 1911. Os festejos incluíram uma viagem no navio Madeira-Mamoré até a cidade de Porto Velho, com inúmeras autoridades a bordo, entre eles Mr. A.B. Jeckill, sócio da empreiteira das obras e John Y. Bayliss, engenheiro chefe da ferrovia. Na ocasião, José pessoalmente representou Mr. R.H. May, outro sócio da empreiteira americana May, Jeckill & Randolph,  contratada pelo magnata Percival Farquhar para construir a ferrovia. José realizou viagens à Europa, neste período, com destino à Lisboa e Paris, à negócios da ferrovia.

Em fins da década de 1910, José casou-se com Mildred Williams, cidadã dos Estados Unidos da América, nascida em Clinton, no estado de Nova York, em 31/07/1895 e falecida no Rio, em 04/07/1985. Provavelmente, José conheceu Mildred em suas frequentes viagens aos EUA, onde passou a realizar negócios de exportação, que pode ter incluído café. Embora tivesse pouco mais de 15 anos quando seu pai faleceu, deve ter herdado deste as habilidades comerciais e o espírito empreendedor e adquiriu muitos contatos no comércio internacional, em sua experiência com a ferrovia Madeira-Mamoré. Jaco e seus filhos eram fluentes na língua inglesa.

O casal José e Mildred residiu nos EUA, possivelmente entre 1917 e 1930. Lá nasceram seus três filhos: Ruby de Avellar Moore (1919), Delza de Avellar Sullivan (1922) e Richard de Avellar (1924). Há inúmeros registros portuários das idas e vindas do casal entre Nova York e o Rio de Janeiro, neste período. Provavelmente, o crash da bolsa de Nova York em 1929 e a crise decorrente dessa, que foi desastrosa para a economia americana e mundial, tenha sido a causa do retorno de José e sua família ao Brasil. Mais tarde, seus filhos voltaram aos EUA, onde constituíram suas famílias. Richard faleceu no Brasil, em 1993. Delza faleceu em 2007, nos EUA.

José faleceu no Rio de Janeiro, no dia 19/03/1937, de causas cardíacas: "myocardite e collapso cardiaco", conforme consta da certidão de óbito, onde foi declarante seu sobrinho, Mario Affonso de Avellar Barbosa. 

Anos após o falecimento de José, Mildred casou-se com Hildebrando Dias de Oliveira, um conhecido editor de revistas sobre automóveis, moda e estilo de vida. Mildred deve ter sido das primeiras mulheres a possuir carteira de motorista no Brasil, pois, há registro de sua aprovação no exame para motoristas em 26/03/1932, no Rio de Janeiro.

Ainda sei pouco sobre a história de José e sua família, mas, graças à internet pude encontrar seus netos, alguns vivendo nos EUA e outros no Brasil. James de Avellar, que reside nos EUA, mandou-me algumas fotos de seu avós, em diversos períodos, a quem agradeço pela enorme contribuição às minhas pesquisas sobre as famílias dos descendentes de João Gomes Ribeiro de Avellar, o Jaco, da qual fazemos parte.   

P.S: Em minhas pesquisas encontrei referência a João Gomes Ribeiro de Avellar, filho de José de Paiva Calvet de Avellar e Maria Calvet de Avellar, nascido em 23/07/1904 em Manaus, no estado do Amazonas, qualificado como comerciante, casado e domiciliado no distrito eleitoral de Copacabana, no Rio de Janeiro. Não tenho qualquer informação sobre este filho de José, nem sobre sua mãe. É possível que José tenha se casado, durante sua permanência em Manaus, anteriormente ao casamento com Mildred, porque a mãe usa o sobrenome Calvet de Avellar. Esta referência consta da relação de eleitores do Boletim da Justiça Eleitoral, de 28/02/1935, na página 607. Em certidão, consta que este mesmo João Gomes Ribeiro de Avellar, casou-se em 02/02/1929, no Rio de Janeiro, com Petronilha Maria Pereira. Ele faleceu em 05/09/1984, com oitenta anos, no Rio de Janeiro, conforme certidão de óbito.

P.S.2: Na certidão de batismo de meu tio avô Waldomiro Antonio Peralta, em 04/07/1914, na igreja matriz do Espírito Santo, no Rio de Janeiro, consta que José de Paiva Calvet de Avellar foi seu padrinho.      

*A epopeia da construção dessa ferrovia pioneira, rasgada no coração da fechada e inóspita floresta amazônica, envolta em intrigas e escândalos políticos da época, e que custou as vidas de dezenas de operários brasileiros e estrangeiros, foi retratada na série de televisão Mad Maria. O título da série era o apelido da primeira locomotiva a vapor que apitou sobre seus trilhos.      

domingo, 2 de julho de 2017

Guerino Soffiatti: Momentos do Passado


Meu bisavô, Guerino Soffiatti com dois de seus filhos, Geny e Amanzor, no Jardim da Luz, em São Paulo, em 1921. (Photo Martins)

Guerino Soffiatti em Itaperuçu, onde residia, ainda parte do município de Rio Branco do Sul, em fins dos anos 1920. 

O casal Guerino e Rosinha Klüppel Soffiatti, meus bisavós, em fins dos anos 1940.

Guerino Soffiatti e sua filha, minha avó Olguinha, na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 1936.

Guerino e sua filha Leonor na praia de Guaratuba, Paraná, no começo dos anos 1930.
Minha avó Olguinha e seu pai Guerino, no Rio de Janeiro, em 1936. O fumo na lapela do paletó representava luto pela filha Leonor, falecida pouco antes, prematuramente. 

terça-feira, 11 de abril de 2017

Família Soffiatti Biscaia: A Guaratuba de Outrora

A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso, no início da década de 1930.
Parentes e amigos da família Soffiatti, em Guaratuba, em 1930. Minha avó Olga Soffiatti Biscaia é a primeira sentada à esquerda. Ao fundo, o morro do Brejatuba, ainda sem a estátua do Cristo, erigida em 1953.
Do lado direito, em pé: meus avós Mario e Olga Biscaia, com minha madrinha, Vera Regina, no colo. Em pé: à esquerda, Henrique de Mattos Guedes, sua mulher Rosinha de Mattos Guedes e a filha Iná. No centro, em pé: Geny Soffiatti da Motta Ribeiro. A criança sentada na areia é minha mãe Maria do Rocio Biscaia. Do seu lado esquerdo, a prima Nilce Soffiatti. Sentados, à direita, estão: Neudy de Mattos Guedes e Neuza Soffiatti da Motta Ribeiro de Mattos Guedes, filha de Geny Soffiatti da Motta Ribeiro, irmã de minha avó, e de Octavio da Motta Ribeiro. Foto de 1944.
Minha avó Olga Biscaia à direita e a tia-avó Diva Bührer Soffiatti, ao centro. Atrás, Laura Klüppel, prima de minha avó. Foto do início da década de 1940.

Meus avós Olga e Mario Chalbaud Biscaia, em trajes de saída de banho, no início dos anos 1940.
Agachado, Carlos Orlando (Xanga) Loyola, com sua mulher e prima de minha avó, Yara Vianna Loyola, atrás dele. Em pé, à direita, minha avó Olga Biscaia. A criança no carrinho é minha mãe, Maria do Rocio Biscaia. A criança à direita é o seu primo Normando Guerino Soffiatti. Foto de 1941.
Nas duas fotos acima, minha avó Olguinha e minha mãe, Maria do Rocio Biscaia, em 1941. À direita, o casal Yara e Carlos Orlando Loyola (Xanga), ela prima de minha avó.
Minha avó Olga Biscaia e minha madrinha Vera Regina Biscaia Leme, cobertas de areia. Em pé, o sobrinho e afilhado dos meus bisavós, Everaldo Trevisani e, ao seu lado, minha mãe Maria do Rocio Biscaia, em fins dos anos 1940.

 Eu, no colo de minha avó Olga Biscaia. Ao lado, minha bisavó Rosinha Klüppel Soffiatti e meu tio Mario Chalbaud Biscaia Junior, na varanda da casa de Guaratuba, em julho de 1962. Ao fundo, vê-se a varanda da casa vizinha, pertencente aos meus tios-avós, Zezé e Tobias de Macedo Junior.

 A entrada da bela baía de Guaratuba: à direita, o cais do ferry-boat; à esquerda, a ilha do Rato e, ao fundo, Caiobá.

A baía de Guaratuba, emoldurada pela Serra do Mar, ao fundo.
Conheço Guaratuba, no litoral do Paraná, desde que posso me lembrar. Estive lá pela primeira vez em julho de 1962, com seis meses de idade, na casa de meus avós maternos, Olga e Mario Chalbaud Biscaia, na avenida Ponta Grossa, 1383 (antes número 1333), próxima à praia. A casa - que hoje não mais existe e deixou uma enorme saudade - foi construída em 1957 e hospedou cinco gerações da família Soffiatti Biscaia, durante quase cinquenta anos de temporadas inesquecíveis. 

Situada num amplo terreno, era espaçosa e confortável. Tinha paredes externas de lambris de madeira dupla horizontal (como as casas norte-americanas) e era pintada de marrom, com janelas, portas e colunas brancas por fora. Por dentro, tinha as cores da moda da época de sua construção: a sala grande era verde clara e havia quatro quartos, um azul; outro verde-escuro; outro amarelo e o quarto rosa, que pertencia aos meus avós. A cozinha era vermelha. Nos fundos, havia uma edícula com garagem e mais dois quartos, no mesmo estilo da casa. Mais tarde, meu tio, Arthur da Silva Leme Neto, mandou construir uma nova e ampla edícula nos fundos do terreno, com uma churrasqueira. Nessa casa, desfrutei de quase todas as férias de minha infância e juventude, por dezenas de verões e invernos.

A casa ao lado, construída pouco antes e projetada pelo famoso arquiteto paranaense Lolô Cornelsen, pertencia aos tios-avós, Maria José (Zezé) Biscaia de Macedo e Tobias de Macedo Junior, padrinhos de minha mãe, Maria do Rocio Soffiatti Biscaia. Tia Zezé era irmã de meu avô Mário Biscaia e eram inseparáveis. Por muitos anos, não existiu muro entre estas casas. Foi este mesmo tio avô, apelidado Biluzinho, que atravessou pela primeira vez um automóvel pela baía de Guaratuba, em cima de uma balsa improvisada, em meados da década de 1940.

Conheci o balneário já na era do ferry-boat, que ainda hoje é o único meio de transporte de veículos e pessoas entre Caiobá e Guaratuba e foi inaugurado em 1960. Sempre fiquei maravilhado com a travessia dessa linda baía, quando criança. As embarcações eram batizadas com nomes de rios do Paraná: Iguaçu, Tibagi, Ivaí, estes os mais antigos de que me lembro. Depois vieram os maiores e mais modernos: Piquiri, Guaraguaçu e Nhundiaquara.

Antes do ferry só se chegava à cidade de carro pela rodovia Garuva-Guaratuba, através de Santa Catarina. A estrada foi rasgada no fim dos anos 1940 e inaugurada em 1950 e, até meados da década de 1970, não era asfaltada. Muito antes, desde a infância, minha avó Olguinha Biscaia já frequentava Guaratuba com seus pais, Rosinha e Guerino Soffiatti. Iniciaram suas idas a Guaratuba na década de 1920 e, pouco depois, adquiriram sua própria casa defronte à baía. Naqueles tempos, a travessia da baía se fazia em canoas, desde a prainha de Caiobá.

Guaratuba só despertou para o turismo, tornando-se um importante balneário, depois da segunda guerra mundial, quando foram finalmente erradicados os focos de malária (ou maleita, como dizia minha avó) que infestava o litoral paranaense. Até fins da década de 1940, nossa família só frequentava Guaratuba durante o inverno, quando não havia mosquitos. Para nós, a antiga cidade litorânea era um segundo lar. Minha bisavó Rosinha Klüppel Soffiatti, após o falecimento do bisavô Guerino Soffiatti, passou a residir permanentemente no balneário, nos seus últimos anos de vida, onde era muito querida e tinha inumeráveis afilhados.

As fotos acima, em cenários bucólicos e de praia quase deserta, onde aparecem meus avós, familiares e amigos, falam por si mesmas desses longínquos primeiros tempos de Guaratuba como cidade balneária, pelos anos de 1930 e 1940. Nas fotos acima, a bela baía de Guaratuba, na atualidade.


Publicado em 19/03/2011.