sexta-feira, 2 de junho de 2023

Os Anos 1940/1950: As Décadas Douradas em Curitiba



Vídeo sobre Curitiba - 1949


Edifício do Clube Curitibano 


Anuncio de vendas do edifício João Alfredo em 27/08/1944 no jornal Gazeta do Povo (*)

Edifício João Alfredo em construção, em foto de1948


Publicação no DOU da nomeação do major aviador Arthur Carlos Peralta, como comandante da base aérea de Curitiba, em junho de 1946.

Nota do Diário do Paraná sobre a nomeação do major aviador Arthur Carlos Peralta comandante da base aérea de Curitiba, em junho de 1946.

Notícia na página de esportes do jornal O Dia, de 14/08/1946 
Notícia do jornal carioca "A Noite", de 20/12/1948, sobre a visita do presidente Dutra à capital do Paraná.

No pátio de aeronaves do aeroporto Afonso Pena, autoridades aguardam o pouso do avião que trazia o presidente Café Filho para a inauguração do Palácio Iguaçu, em 19/12/1954. Meu avô, então tenente-coronel aviador, aparece com o braço erguido. No mesmo grupo está o governador Bento Munhoz da Rocha Netto, de chapéu. No centro da foto, o general Sady Folch e o prefeito Ney Braga que conversa com o então ministro da saúde, Aramis Athayde. Mais à esquerda, o arcebispo de Curitiba, dom Manuel da Silveira Delboux e oficiais da Casa Militar do governo do Paraná. (clique na foto para ampliar).   

O Palácio Iguaçu na noite de sua inauguração, em 19/12/1954. 
"Diário do Paraná" - 12/06/1955

Noticia do Paraná Esportivo, de 18/03/1957, comentando a partida de Curitiba do  recém-promovido coronel aviador Arthur Carlos Peralta, após um longo período de convívio na capital do Paraná. Ele voltaria a Curitiba, em 1965 para, outra vez, comandar a EOEIG, já como oficial-general da Força Aérea Brasileira.

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A Curitiba dos anos 1940 e 1950 foi emblemática para quem nela viveu. As histórias de família falam desta época com saudade e um orgulho nostálgico. A capital do Paraná, pouco a pouco, deixava para trás o pequeno e provinciano vilarejo das primeiras décadas do século XX e ia revelando a importância crescente da economia cafeeira para o estado, que trouxe o desenvolvimento e a modernização em sua face urbana e modificou os costumes e hábitos dos curitibanos.

A partir da segunda metade da década de 1940 surgiram os primeiros “arranha-céus” rivalizando com os prédios mais modestos construídos nas décadas anteriores, como o edifício Moreira Garcez. Dentre estas construções mais altas, que se destacavam na silhueta ainda horizontal da cidade, estavam o edifício Marumby, situado na praça Santos Andrade; o magnífico edifício do Clube Curitibano, na rua Barão do Rio Branco, luxuoso e impressionante para a época; o edifício Santa Julia, na praça Osório; e o edifício João Alfredo, na praça Zacarias. Este último, foi construído por incorporação do tio-avô Evaristo Chalbaud Biscaia, que era vereador na capital; e de seu cunhado, Joffre Cabral e Silva, um visionário empreendedor curitibano, que presidiu o Clube Curitibano e o Clube Atlético Paranaense e, mais tarde, fundaria o Santa Mônica Clube de Campo, na década de 1960. O edifício João Alfredo foi erguido sobre o terreno ao que pertencia ao pai de Joffre, o conhecido médico João Alfredo Silva, que também presidiu nosso glorioso Furacão e foi o principal incorporador da obra.

O governo de Bento Munhoz da Rocha Netto (1951/1955) lançou as bases da histórica transformação social, cultural e política do Paraná e sua capital, nesta Era Dourada. O símbolo desta fase de pujança econômica e desenvolvimento foi a realização do projeto do Centro Cívico, que reuniria o conjunto de todas as edificações dos três poderes estaduais numa grande área da capital, que começou a ser construído no início dos anos 1950. Bem assim, o fabuloso Teatro Guaíra, situado no centro da cidade, que só foi concluído em 1974 e seria por muito tempo o maior do Brasil. 

Em 1953, comemorou-se o centenário da emancipação política do Paraná com uma grande Exposição Mundial do Café, em Curitiba. O belo e moderno Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, foi inaugurado em 19/12/1954. O edifício da Biblioteca Pública do Paraná, também foi aberto ao público neste ano, juntamente com vários outros prédios públicos estaduais, todos com projetos arquitetônicos modernistas. As obras de alguns edifícios públicos sofreram atrasos em sua conclusão, em razão das consequências econômicas da terrível geada que se abateu sobre os cafezais do Paraná, em 1955, que se refletiu na vertiginosa queda de arrecadação do estado, totalmente dependente da cultura do café.

Entre as décadas de 1940 e 1950, meus avós Dyrce Arthur Carlos Peralta e seus filhos, residiram por um longo período em Curitiba. A partir de 1946, foi comandante da base aérea do Bacacheri  e do 12º Grupo de Aviação e, depois, subcomandante e comandante interino da Escola de Oficiais Especialistas e de Infantaria de Guarda (EOEIG), criada no início da década de 50. Em 1948, nasceu em Curitiba, o filho caçula do casal Peralta, Cláudio Victor, o único curitibano entre eles. Durante este tempo de convívio na capital do estado fez inúmeras amizades e criou um profundo amor pela cidade, que cultivaria pelo resto de sua vida. Por isso mesmo, nesta época, meu avô construiu uma casa situada na rua vereador Garcia Rodrigues Velho, no bairro do Cabral, onde pretendia morar quando encerrasse sua carreira militar. 

Foi, também, em meados da década de 1950 que minha mãe, Maria do Rocio Soffiatti Biscaia e, meu pai, Carlos Henrique Peralta se conheceram, em Guaratuba, no litoral do Paraná, na casa de José Muggiati Sobrinho, amigo comum dos meus avós paternos e dos meus avós maternos, Olga Mario Chalbaud Biscaia, cujas famílias eram originárias de Curitiba.

Uma curiosidade sobre esses tempos foi que meu avô Peralta, então tenente-coronel aviador, trouxe do Rio de Janeiro, no início dos anos 1950, um grupo de instrumentistas criteriosamente escolhidos para organizar a banda de música da EOEIG, um projeto que acalentava com muito entusiasmo. Isso só foi possível após inúmeras e insistentes gestões que fez junto ao Ministério da Aeronáutica para obter a dotação orçamentária para a realização do projeto. A banda da EOEIG ficaria famosa pela excelência da qualidade das suas apresentações em solenidades públicas, festividades e eventos sociais. Seus músicos, de notável talento, vieram a influenciar decisivamente o ambiente artístico e musical da próspera capital do Paraná, cuja vida noturna desabrochava, tocando em algumas das mais festejadas boates, os primeiros night clubs de Curitiba. Entre esses músicos estava Raul de Souza, que depois se tornaria um artista muito aplaudido, através de uma carreira de sucesso internacional.

O vídeo ao alto, mostra alguns aspectos da vida da cidade, entre os anos 1940/1950, ainda tranquila, já exibindo os sinais do desenvolvimento que iria transformá-la completamente ao longo das décadas seguintes. A Curitiba daqueles tempos tinha em torno de 6.400 veículos registrados, incluindo automóveis, caminhões, ônibus e motocicletas. Uma cidade muito diferente daquela onde hoje vivemos em que já não há tempo para admirar seus encantos, aprisionados em intermináveis engarrafamentos, com quase um automóvel para cada habitante.     


(*) O edifício João Alfredo teve sua construção iniciada em 1944, quando estava em vigor o Decreto Federal n° 4.098/1942 que exigia que os edifícios acima de cinco pavimentos tivessem abrigos antiaéreos (art. 3°, inciso I), como está estampado no anúncio acima. Em 1944, a Segunda Guerra Mundial estava ainda em pleno curso).
                      
Post republicado e atualizado.