quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Família Klüppel Soffiatti: Uma Casa e Quatro Gerações

A casa de Rosinha e Guerino Soffiatti em foto do final da década de 1940. Ao fundo, à esquerda na foto, é possível ver a silhueta da fachada da residência de Rosinha e Conrado Bührer Junior, na esquina oposta da rua Mateus Leme com a atual rua Presidente Carlos Cavalcanti. A casa visível no canto direito da foto pertencia à família de Alexandre Gutierrez, na época.  

A casa de duas fachadas da foto pertenceu aos meus trisavós Carolina e Nicolau Klüppel em Curitiba, situada no número 626/636 (antes número 112/114) da antiga rua conselheiro Barradas¹ (atual presidente Carlos Cavalcanti), na esquina com a rua Mateus Leme. O imóvel estendia-se até a esquina com a rua Paula Gomes. Esta casa foi herdada pelos meus bisavós Rosa Klüppel Soffiatti e Guerino Soffiatti, que adquiriram as partes dos demais herdeiros e ali passaram a residir, a partir de meados da década de 1920. 

Foi, ainda, morada de meus avós Olga e Mario Chalbaud Biscaia, nos primeiros anos do seu casamento. Nesta casa, numa noite de lua nova de inverno, com a assistência da conhecida parteira Anna Reinhardtª, nasceu minha mãe, Maria do Rocio Soffiatti Biscaia. O médico Bernardo Leinig, casado com sua tia-avó Julia Chalbaud Leinig estava presente e supervisionou o parto, na ocasião.

Ata da sessão da Câmara Municipal de Curitiba que concedeu a carta de data do terreno para Nicolau Klüppel, em 1862. 
Pelo menos parte do terreno onde a casa estava edificada fora adquirido por Nicolau Klüppel, mediante carta de data da Câmara Municipal de Curitiba, concedida em 16/01/1862, quando o logradouro denominava-se "rua nova do Saldanha". Como era comum naqueles tempos, os proprietários utilizavam-se das suas construções para suas atividades profissionais² e para residência de sua família. Costumava-se, também, alugar quando havia espaços ociosos: a oficina de ourives de Frederico Schnell³ estabeleceu-se neste local, a partir de 1866.

Relação das sapatarias de Curitiba - Almanak da Província do Paraná - 1876

Anúncio da oficina de ourives de Frederico Schnell em O Dezenove de Dezembro - 1866

Pouco antes de falecer em 1950, meu bisavô Guerino Soffiatti vendeu o imóvel. No seu lugar foi construído o edifício Mateus Leme, com quatro pavimentos, por incorporação do tio-avô Evaristo Chalbaud Biscaia, juntamente com Mario Affonso Alves de Camargo e Percy Eduardo Isaacson. É das únicas edificações daquele trecho da rua Mateus Leme que respeita um recuo para o alargamento da via que jamais ocorreu.

Na sua vizinhança residiam famílias descendentes de germânicos, quase todos aparentados com meus trisavós e bisavós: do lado oposto da rua Mateus Leme, esquina com a mesma Carlos Cavalcanti, residia a família de Rosinha e Conrado Bührer Junior (que eram sogros do tio avô Amanzor Soffiatti). Do outro lado da atual rua Carlos Cavalcanti, residia a família de Eduardo e Olga Klas Weigert (sobrinhos de minha bisavó, Rosinha Klüppel Soffiatti). Nos fundos, pela rua Paula Gomes, a casa dividia o muro lateral com a residência da família Pilotto, que ainda hoje existe no local e pertence ao governo estadual. Pelo lado direito, na rua Carlos Cavalcanti, a casa vizinha pertencia à família de Alexandre Gutierrez.

         
¹ A atual rua presidente Carlos Cavalcanti denominou-se, sucessivamente: rua Nova do Saldanha, rua do Serrito e rua Conselheiro Barradas. 

ª Anna Reinhardt nasceu na Alemanha em 1876. Era parteira prática, formada em curso promovido pela Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná. Foi diplomada em 29/03/1915, com certificado assinado pelos médicos Nilo Cairo e Victor Ferreira do Amaral, então diretor da Universidade. Residia na rua Inácio Lustosa, 416. 

²  Nicolau Klüppel era oficial sapateiro (schuhmacher geselle), formado pela corporação de ofícios (guilda) de sua região de origem na Prússia, conforme consta dos documentos do seu embarque no porto de Hamburgo. Nesta mesma anotação consta que a passagem de navio para o Brasil foi paga pelo lavrador Bernard Schneider, que viajou no mesmo navio, com sua mulher e filhos. Em sua chegada ao porto de São Francisco (SC), em dezembro de 1856, o escrivão fez constar sua profissão como sendo lavrador

³ Friedrich (Frederico) Schnell, também nascido na Prússia, chegou ao Brasil com 25 anos, em 1862. Constou em seu registro de desembarque que era ferreiro de profissão, mas, sempre exerceu as atividades de ourives

Obs.: Muitos imigrantes alemães com formação em corporações de ofícios, declaravam que eram lavradores ou ferreiros para embarcarem para o Brasil com passagem gratuita e obterem lotes de terra. As agências de colonização exigiam que os imigrantes trabalhassem na agricultura, ou em atividades relacionadas com esta, nas terras que eram destinadas nas colônias especialmente para este fim. Entretanto, muitos imigrantes que tinham profissões de ofício, ao chegar ao Brasil fugiam para os centros urbanos maiores para exercerem suas profissões especializadas com maiores rendimentos.   
Nas antigas corporações de ofício dos países europeus que reconheciam as guildas como instituições oficiais de ensino profissional, como a Prússia, as profissões tinham três graus de formação: os aprendizes (sehrling); os oficiais (geselle) e os mestres (meister) desde a Idade Média. Os diplomas conferiam aos seus portadores prestígio profissional e salários melhores, quando empregados. As profissões organizadas em guildas eram de exercício exclusivo dos seus membros.