terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Mario Chalbaud Biscaia e o Club Atlhetico Paranaense

Novembro de 1947: Ofício do presidente João Alfredo Silva convocando Mário Biscaia para assumir a presidência interina do CAP. 

O Dia - 23/12/1931

Diário da Tarde - 14/01/1933


O Dia - 28/12/1945: A manchete das vésperas da conquista do campeonato de 1945 pelo CAP
1945

1947

1948

Homenagem da Associação dos Cronistas Esportivos do Paraná (ACEP) aos principais dirigentes do futebol paranaense. (Diário da Tarde - 27/01/1949)

Nestes tempos em que os modismos e os marqueteiros trazem de volta as velhas grafias de nomes de times de futebol e, bem assim, camisas antigas entre outros badulaques, ditos vintage, resolvi republicar este post que mostra um pequeno flash back da trajetória do meu avô Mario Chalbaud Biscaia no seio do seu time favorito. O Club Athletico Paranaense, nosso velho e querido CAP, em fins do ano de 2018, às vésperas da notável conquista do seu primeiro título internacional e continental, a Copa Sul Americana, mudou seu escudo e voltou a usar o nome que tinha quando meu avô iniciou sua carreira como jogador amador e como dirigente do clube da Baixada do Rio Água Verde, na rua Buenos Aires, há mais de 85 anos.

Sem dar palpite, nem entrar no mérito das conveniências mercadológicas dessas mudanças, de fato, nenhuma novidade há nesta versão do nome do time, lembrando o aforismo latino, sempre estampado nas reedições de livros antigos ou esgotados: non nova, sed nove; ou seja: nada de novo, mas, de novo, novamente. Como se pode observar nos recortes de jornal acima, do início da década de 1930, a ortografia exigia o uso do "th" e a palavra clube ainda era um estrangeirismo escrito com "b" mudo. Seu arquirrival, o Coritiba FootBall Club nunca abandonou a grafia original do nome com o qual foi fundado no início do século XX, quando Curitiba se escrevia Coritiba.

Meu avô, Mario Chalbaud Biscaia, nutria algumas grandes paixões na sua vida, além de sua família: duas delas eram o futebol e o Club Atlhetico Paranaense, o seu sempre glorioso Furacão. A outra veio mais tarde: a Associação Paranaense de Reabilitação (APR) da qual foi um dos fundadores, na década de 1950, tendo sido um associado incansável e benemérito. 

Em novembro de 1947, Mário Biscaia assumiu a presidência do Atlético Paranaense por alguns meses, em decorrência do impedimento temporário do presidente João Alfredo Silva. Seria a primeira de muitas interinidades como vice-presidente, entre 1947 e 1949. Nesta época, a grafia do nome do CAP já havia se modernizado com a nova ortografia em vigor, como se pode notar no papel timbrado do clube, na foto inicial. 

Mário Biscaia ocupou cargos na diretoria do Atlético, em praticamente todas as gestões do clube entre 1931 e 1968, incluindo os tempos do Atlhetico médio, uma espécie de departamento juvenil da agremiação. Na diretoria do CAP foi secretário-geral e, por diversas gestões, foi o incansável tesoureiro do clube, em épocas de grandes dificuldades financeiras. Foi ainda vice-presidente e presidente interino.

Ele dirigiu o departamento de futebol profissional do CAP, que hoje corresponde ao cargo de diretor de futebol, durante os campeonatos vitoriosos de 1945 e de 1949, quando o clube  recebeu o título de Furacão, apelido pelo qual é conhecido em todo  Brasil.

O livro Atletiba, A Paixão das Multidões, escrito por dois conhecidos e respeitados jornalistas esportivos do Paraná, Vinicius Coelho e Carneiro Neto, conta a história da conquista do emblemático título de 1949, cuja preparação começara em 1948, na gestão do presidente João Alfredo Silva, na qual meu avô foi vice-presidente e quando aconteceram várias contratações dos melhores jogadores da época. E, continua o livro: "No ano seguinte, tendo Itaciano Marcondes na presidência e Mário Biscaia como diretor de futebol, o Atlético fez por merecer o título de 'O Furacão'." (grifei) *

Em 24/06/1999, dia da inauguração da Arena da Baixada (que precedeu e deu origem ao atual estádio magnífico, construído para a Copa do Mundo FIFA de 2014 no Brasil) a coincidência do destino me fez sentar na cadeira ao lado da filha do presidente Itaciano Marcondes. Ali, no mesmo local, 50 anos depois da conquista do título de Furacão, estavam sentados lado a lado na arquibancada, a filha e o neto de dois homens que fizeram parte da história gloriosa do CAP e construíram os alicerces dos novos tempos. 

A notória indiferença de sucessivas gestões do clube nas últimas décadas em relação à memória do CAP, que alguns gostariam simplesmente de apagar da história, relegou ao esquecimento muitos daqueles obstinados e abnegados dirigentes do passado, que edificaram os pilares dessa agremiação para as conquistas do presente.

Qualquer que seja o modo que seu nome seja escrito, as pessoas, os dirigentes, a grafia e os modismos sempre passam, mas, a paixão pelo velho Furacão permanece intacta e para sempre escrita da mesma forma. E, para terminar, como dizia meu avô: "Futebol é bola na rede. O resto é conversa fiada para boi dormir".

*Atletiba, A Paixão das Multidões; Vinicius Coelho e Carneiro Neto; editora Fundação Cultural de Curitiba; 1994; página  67.