segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Família Avellar: A Gripe Espanhola - 1918



Manchete do jornal Correio Paulistano de 11 de novembro de 1918.

Notícia do falecimento de Maria José Ribeiro de Avellar e seu irmão Ângelo Ribeiro de Avellar, em decorrência da gripe espanhola (Correio Paulistano - 11/11/1918)

Convite de minha trisavó Leocádia de Avellar Simões, marido e filhos, sua irmã Emerenciana de Avellar Barbosa e sua tia Josephina Calvet, para a missa de sétimo dia de seu irmão João. (Correio da Manhã - 26/11/1918)

Convite da viúva e seus filhos João e Paulo para a missa pelo falecimento de João Gomes Ribeiro de Avellar e dos filhos Angelo e Maria José (Correio da Manhã - 24/12/1918)
Não há como terminar este ano sem relembrar uma das maiores catástrofes da história moderna da civilização, ocorrido há cem anos. A gripe espanhola, como ficou conhecida, teve seu trágico início em um campo de treinamento de soldados americanos no estado do Kansas, no interior dos EUA, com o aparecimento de uma cepa mortífera do vírus da gripe Influenza A. Com o deslocamento das tropas no teatro europeu, ao longo dos últimos meses da Primeira Guerra Mundial e o regresso destas aos seus países, após seu término, a gripe transformou-se numa pandemia global que matou mais pessoas que a própria guerra, afetando cerca de 50% da população do planeta.

No Brasil, a pandemia surgiu e, rapidamente, atingiu seu ápice em novembro e dezembro de 1918, ceifando a vida de mais de 35 mil pessoas, especialmente, em São Paulo e no Rio de Janeiro, as maiores cidades do país. O escasso conhecimento da época sobre as causas, as formas de contágio e o tratamento desta enfermidade letal era motivo de desesperança para os doentes, seus familiares e os profissionais da saúde envolvidos no seu combate. Como todas as pandemias causadas por vírus, após alguns ciclos de expansão e retração, ela desapareceu em fins de 1919, deixando um rastro de muitas dezenas de milhões de mortos, de sofrimento e de famílias devastadas.   

Minhas pesquisas revelaram um triste episódio na família Avellar, causado pela terrível pandemia, que provocou a morte de três pessoas - o pai, um filho e uma filha - num espaço de alguns dias. João Gomes Ribeiro de Avellar (filho homônimo de Jaco e neto homônimo do visconde da Paraíba) morava em São Paulo, onde era funcionário do Banco do Brasil. João era um dos irmãos mais novos de minha trisavó Leocádia Calvet de Avellar Simões. Em meados de novembro de 1918, em dois dias seguidos, sucumbiram em decorrência da gripe, dois dos quatro filhos de João: Ângelo Ribeiro de Avellar e Maria José Ribeiro de Avellar, com 20 e 19 anos, respectivamente. O próprio João seria vitimado pela gripe nos dias seguintes, com 44 anos de idade. Foi uma tragédia familiar que não podia ser esquecida neste ano do seu centenário. 

Entre os recortes de jornais daquela época, acima, destaca-se o comovente convite para a missa "pelo descanso eterno das almas" de João e seus dois filhos, mandada celebrar pela viúva, Maria Isabel Ângelo de Avellar e seus dois outros filhos, João e Paulo, e pelo sogro Manoel Lopes Ângelo, no dia 24 de dezembro de 1918, uma véspera de Natal como hoje, há exatos cem anos. 

sexta-feira, 18 de maio de 2018

Rosinha Klüppel e Guerino Soffiatti

Rosinha Klüppel 

Guerino Soffiatti

Meus bisavós Rosa Klüppel e Guerino Soffiatti. Ela filha de Carolina Probst e Nicolau Klüppel, nascida em Curitiba, em 1884. Ele filho de Pasqua Letizia Trevisani e Attilio Soffiatti, nascido em Correzzo, na província de Verona, Itália, em 1880. Casaram-se em 19/01/1901, na matriz do Senhor Bom Jesus dos Passos, em vila Deodoro, hoje Piraquara, município vizinho de Curitiba, onde os pais de Rosinha residiam na ocasião. Tiveram oito filhos, entre eles minha avó, Olga Soffiatti Biscaia, a caçula.  Guerino faleceu em 1950 e Rosinha em 1963. As fotos são da época do casamento.

Contam as histórias de família que Guerino apaixonou-se por Rosinha à primeira vista, mas, seu futuro sogro não permitia o namoro. Guerino, então, levou um banquinho de vime e, todos os dias a uma certa hora, sentava-se por um longo tempo à porta da casa de Rosinha, esperando ser recebido por Nicolau Klüppel para pedir permissão para o namoro. Segundo minha avó Olguinha contava, passaram-se semanas e, fosse na chuva ou no frio, Guerino continuava a sentar-se à porta, esperando  pacientemente ser recebido. Após um longo tempo, Nicolau teria dito a Rosinha que admirava uma pessoa com aquela persistência e, finalmente, convidou-o para entrar e autorizou o namoro do casal. Como nas melhores histórias românticas, casaram e foram felizes para sempre.


sábado, 5 de maio de 2018

Ainda Sobre Ludgero José Villet

1826


1846

Como disse antes, as pesquisas genealógicas familiares estão cada vez mais favorecidas pela constante publicação de livros antigos e registros na internet. O Google Books publicou recentemente novos documentos, que contém informações sobre a trajetória militar do meu tetravô Ludgero José Villet, pai da trisavó Maria Adelaide de Burgos Chapuzet Villet que junto com meu trisavó, o médico Antonio Botelho Peralta tornaram-se a matriarca e o patriarca do nosso ramo brasileiro da família Peralta, tendo chegado entre 1857 e 1858 ao Brasil.  

Os registros acima detalham momentos do início e do fim da carreira militar de Ludgero José Villet, como oficial de Infantaria do Exercito Português. O primeiro registra a incorporação de Ludgero ao Regimento de Infantaria número 4, no posto de alferes (equivalente a segundo-tenente, nos dias atuais), transferido das Companhias provisórias de Cabo Verde, no mesmo posto, onde foi ajudante de ordens de seu tio então coronel, João da Matta Chapuzet, governador do Arquipélago. A incorporação deu-se por decreto de 28/09/1826, publicado na Gazeta de Lisboa, número 240, página 985, em 12/10/1826.   

Quartel de Santo Ovídio na cidade do Porto - cerca de 1850

O segundo revela que em 1846, no posto de capitão, Ludgero José Villet comandava a 6ª Companhia do Regimento de Infantaria número 2, na cidade do Porto. O Regimento estava sob o comando do coronel Manoel Eleutério Malheiro e sediado no famoso Quartel de Santo Ovídio, no Campo da Regeneração (atual praça da República). A informação consta do Directorio Civil, Político, Commercial da Cidade do Porto e Villa Nova de Gaya, edição de 1846 da Typographia Commercial, página 81. Também consta que Ludgero residia na rua Bella da Princesa, nº 2 (hoje a conhecida rua de Santa Catarina). 

Segundo outros documentos que pesquisei e já publiquei neste blog (vide post), Ludgero José Villet foi reformado compulsoriamente, ou seja, transferido para a 3ª Seção do Exército, em 25 de outubro de 1846, num de ato de perseguição política da Junta da Patuleia, durante a famigerada revolução da Patuleia. Aparentemente, o ato foi definitivo e encerrou precocemente a vida militar de Ludgero José Villet. É de se registrar que Ludgero ficou pelo menos cinco anos longe das fileiras do Exército, acompanhando seu tio, o coronel João da Matta Chapuzet, num exílio forçado durante o período da usurpação de dom Miguel, o que certamente atrasou sua carreira.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Os Cem Anos de Olguinha Soffiatti Biscaia

Olguinha em 1921.


Itaperuçu no início dos anos 1920: Olguinha é a quinta criança da esquerda para a direita
Com meu avô Mario Chalbaud Biscaia, em 1967, defronte a igreja de Santa Teresinha, em Curitiba. 


No dia do seu casamento com Mário, em 28/05/1938, na casa de seus pais Rosinha e Guerino Soffiatti, na antiga rua Conselheiro Barradas, no centro de Curitiba. 
Com Mário, no baile de debutantes de minha mãe, Maria do Rocio Soffiatti Biscaia, em 1955, no Graciosa Country Club.


A primeira à direita, com as irmãs Geny e Leonor (a quarta e a sexta) e outras amigas em Guaratuba (1930).

Olguinha e Mário, na praia de Guaratuba, em 1940.

Com minha mãe no colo, em 1941, em Guaratuba, ao lado sua mãe Rosinha. Mais à esquerda, seu pai Guerino e sua cunhada Diva Bührer Soffiatti. Atrás, de chapéu, o pintor Guido Viaro, hóspede frequente da casa da família Soffiatti em Guaratuba.
Olguinha e seu pai Guerino Soffiatti na floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 30/04/1936.  
Minha avó Olguinha, comigo em seu colo, ao lado minha bisavó Rosinha Klüppel Soffiatti e meu tio Mario Chalbaud Biscaia Junior, em julho de 1962, na sua casa em Guaratuba (PR).
Em 20 de abril de 1918, quando já sopravam os primeiros ventos frios no vale onde corre o Açungui, em Itaperuçu, na região metropolitana de Curitiba, nascia minha avó Olga Odilá Klüppel Soffiatti, depois Olga Odilá Soffiatti Biscaia ou, para nós que a amávamos, simplesmente Olguinha. Filha de Rosa Klüppel Soffiatti e Guerino Soffiatti, a caçula de oito irmãos e irmãs, os quais todos conheci, exceto Leonor, que faleceu ainda jovem. Minha avó sempre contou que teve uma infância muito feliz e foi amada e mimada por seus pais e seus irmãos.

Estudou no internato do Colégio São José e no Colégio Iguaçu. Casou-se em 1938, com Mario Chalbaud Biscaia e teve três filhos: minha mãe Maria do Rocio Soffiatti Biscaia; minha madrinha Vera Regina Biscaia Leme; e meu tio Mario Chalbaud Biscaia Junior. Conheceu todos os seus netos e grande parte dos seus bisnetos. Fui seu neto mais velho e tive a satisfação de um longo convívio com ela, morando na sua casa da rua Lamenha Lins, 203, e ao longo de uma grande parte de sua vida.

Olguinha tocou piano na juventude e, mais tarde, foi pintora premiada, catalogada entre os melhores artistas paranaenses. Desfrutei do seu carinho, de seus cuidados, de suas histórias, de suas memórias, de suas receitas, de suas pinturas, de seus conselhos e de tanto tempo juntos.

Tempos inesquecíveis, fosse em Curitiba ou nas maravilhosas temporadas de inverno e verão em Guaratuba. Incontáveis lembranças e uma saudade imensa, neste dia em que faria 100 anos. Uma presença iluminada e imorredoura, em minhas melhores recordações.