quinta-feira, 21 de abril de 2011

João Gomes Ribeiro de Avellar, o visconde da Paraíba

O visconde da Paraíba



O solar da fazenda Boavista, residência de João Gomes Ribeiro de Avellar e sua família, em Paraíba do Sul (RJ).
O palacete do visconde da Paraíba, no centro da cidade de Paraíba do Sul (RJ)

João Gomes Ribeiro de Avellar, depois barão e visconde da Paraíba, nasceu em 07/01/1805, na freguesia de Santa Rita, na cidade do Rio de Janeiro, filho de Luiz Gomes Ribeiro e de Joaquina Mathilde de Assumpção Avellar. Era, ao mesmo tempo, neto materno e sobrinho-neto paterno do tenente Antonio Ribeiro de Avellar, que fundou as fazendas Pau Grande e Guaribu e foi testemunha de defesa de Tiradentes nos "autos de devassa". A família Ribeiro de Avellar era uma das maiores proprietárias de terras e produtoras de café, no vale do Paraíba fluminense. 

João Gomes Ribeiro de Avellar casou-se, em 15/11/1831, com Carolina Rosa de Azevedo, com quem teve cinco filhos: Rosa, Carolina, Manuel Joaquim, João (homônimo do pai e meu tetravô) e Luis. A fazenda da Boa Vista, onde residiam, situada em Paraíba do Sul (RJ), surgiu da união de duas sesmarias, concedidas pela coroa portuguesa em 1811: Cachoeira da Boavista e Surubiquara. O capitão Manuel Joaquim de Azevedo adquiriu ambas, transformando-as em uma única propriedade, onde fez construir um grande engenho de açúcar e cultivou cana. Após sua morte e da esposa, a fazenda foi herdada por sua única filha Carolina Rosa e seu genro, João Gomes Ribeiro de Avellar, que a transformou em grande produtora de café.

O solar da Boavista foi construído em 1834 e recebeu sucessivos melhoramentos. Em 1860, construiu um palacete na vila de Paraíba de Sul, onde ocorreram muitas reuniões políticas do Segundo Império. Os salões de suas casas receberam importantes personagens, principalmente do Partido Liberal, que Ribeiro de Avellar liderou naquela região fluminense por quase meio século. Seu opositor, Hilário Joaquim de Andrade, o barão de Piabanha, chefiava o Partido Conservador. O visconde era considerado "um homem de grande firmeza de caráter, discreto e que tratava cordialmente seus adversários". Teve papel relevante no auxílio aos habitantes de Paraíba do Sul quando da epidemia de cólera, em 1855.

Exerceu a presidência da Câmara Municipal de Paraíba do Sul, cargo equivalente ao de prefeito da época. Foi coronel-chefe da 8.ª Legião da Guarda Nacional, sediada em Paraíba do Sul, nomeado em 30/10/1841. Por duas vezes, foi vice-presidente da província do Rio Janeiro, designado em 10/08/1848 e em 01/06/1864. Deputado provincial na primeira legislatura, em 1835, e em outras seguintes. Foi fundador do Clube da Lavoura do Rio de Janeiro. O título de barão da Paraíba foi-lhe concedido em 30/12/1858 e o de visconde, em 04/03/1876. Dois irmãos seus foram, também, titulares do Império: Cláudio, o barão do Guaribu; e Paulo, o barão de São Luis.

O visconde da Paraíba faleceu em 12/01/1879, na sua fazenda da Boavista. Havia fundado ou herdado diversas outras fazendas, num total de 1.625 alqueires de terras. A Boavista foi herdada por seu filho Manuel Joaquim de Azevedo Avellar, bacharel em direito e adido de legação na Europa, por seu filho homônimo João, conhecido por Jaco e, por seu genro, Luiz Carlos Mariano da Silva, que a venderam ao governo imperial, o qual pretendia ali instalar uma hospedaria para imigrantes, o que ocorreu depois da proclamação da República. Atualmente, o velho solar da fazenda, muito bem conservado, pertence a particulares.

Notícia da venda da fazenda Boa Vista ao governo imperial (Revista de Engenharia - 1889).
O filho homônimo do visconde, João Gomes Ribeiro de Avellar, o Jaco, meu tetravô, recebeu ainda, as terras das fazendas do Guaribu e Guaribu Velho. Jaco casou-se com Emerenciana Magalhães Calvet de Avellar e foram pais de minha trisavó, Leocádia Calvet de Avellar, que se casou com Arthur Quirino Simões. Por meio da filha, Herundina de Avellar Simões, casada com Valdomiro Villet  Peralta, transmitiram a fazenda do Guaribu à família Peralta. Em seus últimos anos de vida, o visconde estava desalentado com os rumos da cafeicultura, especialmente, na província do Rio de Janeiro. Antevendo os acontecimentos que determinariam o fim do ciclo fluminense do café e o declínio da economia rural da região e dos fazendeiros, em seu testamento ditado na Boavista, em 13/06/1876, recomendou aos seus filhos que se afastassem da agricultura, advertindo-os que “seu futuro como lavradores era medonho”.

Dez anos após a sua morte, a decadência econômica do vale do Paraíba fluminense já era visível. A exaustão do solo pelo cultivo extensivo de café, ao longo de décadas, com técnicas rudimentares, e a contínua expansão do seu plantio nas adequadas e férteis terras paulistas, deslocou definitivamente o pólo da produção cafeeira para o sul do Brasil, avançando até o norte do Paraná, na primeira metade do século XX. Além disso, sucessivas superproduções de café, aviltaram os preços na última década do século XIX, levando muitos cafeicultores e empresas à ruína. Conforme ele temia, a civilização do café fluminense, que trouxera consigo riqueza, prosperidade e fastígio para a região por mais de meio século, havia terminado. As fazendas da Boavista e do Guaribu foram testemunhas e palcos do apogeu e da derrocada desta era, sendo que esta última, ainda pertence aos seus descendentes, da família Peralta, após mais de duzentos anos de sua fundação.  

Agradeço ao pesquisador e conterrâneo, Roberto Menezes de Moraes, por informações do testamento e a foto do visconde.

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