segunda-feira, 6 de novembro de 2017

José de Paiva Calvet de Avellar

José de Paiva Calvet de Avellar
(Foto do acervo de seus familiares)
Técnicos brasileiros e americanos da Madeira-Mamoré Railway, visitam as obras em 1910. José é o mais alto de terno escuro e chapéu claro. (Foto de Dana Merril, fotógrafo oficial da ferrovia - Arquivo Digital da Biblioteca Nacional)   

José, Mildred e seus filhos Ruby, Delza e Richard de Avellar
(Foto do acervo de seus familiares)
Mildred, José, filhos e amigos
(Foto do acervo de seus familiares)
Aviso do falecimento de José no jornal A Noite, de 19/03/1937. Convidam para o seu sepultamento, além de Mildred e filhos; o médico Carlos Grey, seu cunhado, viúvo de sua irmã Adelaide de Avellar Grey; Gentil França, casado com Esther de Avellar Barbosa França e Mario Affonso de Avellar Barbosa, ambos filhos de sua irmã Emerenciana de Avellar Barbosa.    

As minhas pesquisas de genealogia familiar aos poucos foram revelando alguns parentes que o tempo, a distância e o crescimento das famílias afastaram das nossas memórias familiares. Um deles é José de Paiva Calvet de Avellar, filho de Emerenciana Calvet de Avellar e João Gomes Ribeiro de Avellar, o Jaco. Era o irmão mais novo de minha trisavó Leocádia Calvet de Avellar Simões. Nasceu em Niterói (RJ), em 08/07/1876 e foi batizado na matriz de São João Baptista, em 15/06/1877. É possível que, após o falecimento dos seus pais, quando tinha 15 anos, José tenha ficado sob os cuidados de sua irmã mais velha, Emerenciana (que tinha o mesmo nome da mãe) a qual se casou, em 29/06/1895, com José Joaquim Barbosa, que foi diretor da conhecida Fábrica de Tecidos Confiança.    

José de Paiva Calvet de Avellar, ou simplesmente José de Avellar, como era mais conhecido, ganhou seu nome em homenagem ao seu avô materno, José de Paiva Magalhães Calvet, ilustre líder farroupilha gaúcho, deputado e oficial maior da Secretaria de Estado dos Negócios do Império, nascido em 1808, em Porto Alegre e falecido precocemente em 1853, no Rio.

Minhas pesquisas revelaram que José esteve durante um longo período (entre 1904 até perto de 1915) na Amazônia, especialmente em Manaus, onde, entre outras ocupações, foi procurador geral da empresa responsável pelas obras da famosa Madeira-Mamoré Railway*. É referido como sendo engenheiro, em algumas notícias da época. Em outras, seu nome é precedido do título de major, talvez, da Guarda Nacional, cuja concessão era comum a personalidades de destaque, no Império e na República Velha.

Foi dos principais responsáveis pela coordenação das cerimônias de inauguração do terceiro trecho da ferrovia, em setembro de 1911. Os festejos incluíram uma viagem no navio Madeira-Mamoré até a cidade de Porto Velho, com inúmeras autoridades a bordo, entre eles Mr. A.B. Jeckill, sócio da empreiteira das obras e John Y. Bayliss, engenheiro chefe da ferrovia. Na ocasião, José pessoalmente representou Mr. R.H. May, outro sócio da empreiteira americana May, Jeckill & Randolph,  contratada pelo magnata Percival Farquhar para construir a ferrovia. José realizou viagens à Europa, neste período, com destino à Lisboa e Paris, à negócios da ferrovia.

Em fins da década de 1910, José casou-se com Mildred Williams, cidadã dos Estados Unidos da América, nascida em Clinton, no estado de Nova York, em 31/07/1895 e falecida no Rio, em 04/07/1985. Provavelmente, José conheceu Mildred em suas frequentes viagens aos EUA, onde passou a realizar negócios de exportação, que pode ter incluído café. Embora tivesse pouco mais de 15 anos quando seu pai faleceu, deve ter herdado deste as habilidades comerciais e o espírito empreendedor e adquiriu muitos contatos no comércio internacional, em sua experiência com a ferrovia Madeira-Mamoré. Jaco e seus filhos eram fluentes na língua inglesa.

O casal José e Mildred residiu nos EUA, possivelmente entre 1917 e 1930. Lá nasceram seus três filhos: Ruby de Avellar Moore (1919), Delza de Avellar Sullivan (1922) e Richard de Avellar (1924). Há inúmeros registros portuários das idas e vindas do casal entre Nova York e o Rio de Janeiro, neste período. Provavelmente, o crash da bolsa de Nova York em 1929 e a crise decorrente dessa, que foi desastrosa para a economia americana e mundial, tenha sido a causa do retorno de José e sua família ao Brasil. Mais tarde, seus filhos voltaram aos EUA, onde constituíram suas famílias. Richard faleceu no Brasil, em 1993. Delza faleceu em 2007, nos EUA.

José faleceu no Rio de Janeiro, no dia 19/03/1937, de causas cardíacas: "myocardite e collapso cardiaco", conforme consta da certidão de óbito, onde foi declarante seu sobrinho, Mario Affonso de Avellar Barbosa. 

Anos após o falecimento de José, Mildred casou-se com Hildebrando Dias de Oliveira, um conhecido editor de revistas sobre automóveis, moda e estilo de vida. Mildred deve ter sido das primeiras mulheres a possuir carteira de motorista no Brasil, pois, há registro de sua aprovação no exame para motoristas em 26/03/1932, no Rio de Janeiro.

Ainda sei pouco sobre a história de José e sua família, mas, graças à internet pude encontrar seus netos, alguns vivendo nos EUA e outros no Brasil. James de Avellar, que reside nos EUA, mandou-me algumas fotos de seu avós, em diversos períodos, a quem agradeço pela enorme contribuição às minhas pesquisas sobre as famílias dos descendentes de João Gomes Ribeiro de Avellar, o Jaco, da qual fazemos parte.   

P.S: Em minhas pesquisas encontrei referência a João Gomes Ribeiro de Avellar, filho de José de Paiva Calvet de Avellar e Maria Calvet de Avellar, nascido em 23/07/1904 em Manaus, no estado do Amazonas, qualificado como comerciante, casado e domiciliado no distrito eleitoral de Copacabana, no Rio de Janeiro. Não tenho qualquer informação sobre este filho de José, nem sobre sua mãe. É possível que José tenha se casado, durante sua permanência em Manaus, anteriormente ao casamento com Mildred, porque a mãe usa o sobrenome Calvet de Avellar. Esta referência consta da relação de eleitores do Boletim da Justiça Eleitoral, de 28/02/1935, na página 607. Em certidão, consta que este mesmo João Gomes Ribeiro de Avellar, casou-se em 02/02/1929, no Rio de Janeiro, com Petronilha Maria Pereira. Ele faleceu em 05/09/1984, com oitenta anos, no Rio de Janeiro, conforme certidão de óbito.

P.S.2: Na certidão de batismo de meu tio avô Waldomiro Antonio Peralta, em 04/07/1914, na igreja matriz do Espírito Santo, no Rio de Janeiro, consta que José de Paiva Calvet de Avellar foi seu padrinho.      

*A epopeia da construção dessa ferrovia pioneira, rasgada no coração da fechada e inóspita floresta amazônica, envolta em intrigas e escândalos políticos da época, e que custou as vidas de dezenas de operários brasileiros e estrangeiros, foi retratada na série de televisão Mad Maria. O título da série era o apelido da primeira locomotiva a vapor que apitou sobre seus trilhos.      

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