sábado, 7 de dezembro de 2024
quarta-feira, 31 de julho de 2024
Uma Emboscada para Guilherme Klüppel
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Telegrama do coronel Carlos Pioli, publicado no jornal A República, comunicando o assassinato de Guilherme Klüppel. |
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Reportagem do jornal Diário da Tarde, em 18/08/1911, sobre a emboscada contra Willy Klüppel. |
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Os gêmeos Rosa e Willy Klüppel em fins da década de 1880 - Fotógrafo H.A. Volk |
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Guilherme (Willy) Klüppel na primeira década do século XX (foto que pertencia ao acervo de minha avó Olga Soffiatti Biscaia) |
Minha avó, Olga Soffiatti Biscaia sempre contava histórias de família, que eu ouvia com especial atenção e interesse. Aliás, quando pesquiso sobre as histórias que minha avó contava, sempre confirmo que o teor de todas eram o relato da verdade, sem exageros ou invenções. Uma história que era sempre repetida tratava do assassinato de tocaia de seu tio, Guilherme Klüppel, chamado Willy pela família e irmão gêmeo de sua mãe, Rosinha Klüppel Soffiatti. Os gêmeos eram os filhos caçulas de Carolina e Nicolau Klüppel.
Nessa história, minha avó contava que Willy Klüppel exercia o cargo de "delegado calça-curta" em Itaperuçu, como eram chamados os subcomissários de polícia, nomeados pelo governador do estado (que na época tinha o título de presidente do estado). Esses cargos políticos eram confiados aos correligionários dos chefes partidários regionais. Guilherme era filiado ao Partido Republicano Paranaense e o coronel Carlos Pioli era o chefe político regional de Rio Branco do Sul, município onde se situava a localidade de Itaperuçu¹ na ocasião. O coronel Pioli foi prefeito daquele município, mais tarde deputado estadual em várias legislaturas, tendo sido um influente líder político no Paraná, durante a República Velha.
Willy Klüppel foi nomeado subcomissário em Itaperuçu em 1911 e, antes, exercera o mesmo cargo no município de Cerro Azul. A politica partidária naquela região e em muitos outros rincões do Paraná e do Brasil durante a República Velha, envolvia disputas violentas e, não raro, assassinatos de adversários e inimigos. A morte de Guilherme Klüppel, em 17 de agosto de 1911, aconteceu nesse cenário de violência política regional e foi comunicada por telegrama do coronel Carlos Pioli, ao jornal A República, órgão do Partido Republicano Paranaense.
Segundo a reportagem do jornal Diário da Tarde de 18/08/1911, feita com base no relato do subcomissário de polícia da capital, Francisco Nascimento, encarregado da investigação do crime, Willy Klüppel havia deixado sua casa em Itaperuçu com destino à estação ferroviária de Rio Branco do Sul. Lá, supervisionou o embarque de uma carga de madeira e lenha para a capital e para vila Deodoro (hoje Piraquara) onde seu pai, Nicolau Klüppel comercializava lenha e beneficiava madeira. Willy Klüppel e seu cunhado, meu bisavô Guerino Soffiatti, extraíam e comercializavam madeiras em Itaperuçu.
Segundo a reportagem do jornal Diário da Tarde de 18/08/1911, feita com base no relato do subcomissário de polícia da capital, Francisco Nascimento, encarregado da investigação do crime, Willy Klüppel havia deixado sua casa em Itaperuçu com destino à estação ferroviária de Rio Branco do Sul. Lá, supervisionou o embarque de uma carga de madeira e lenha para a capital e para vila Deodoro (hoje Piraquara) onde seu pai, Nicolau Klüppel comercializava lenha e beneficiava madeira. Willy Klüppel e seu cunhado, meu bisavô Guerino Soffiatti, extraíam e comercializavam madeiras em Itaperuçu.
As investigações apontaram que o crime foi praticado por uma pessoa contratada por seus adversários políticos, mas, desconheço a conclusão do inquérito ou mesmo se alguém foi punido pelo crime.
Minha avó contava que sua mãe Rosinha, gêmea de Willy Klüppel, tivera um horrível pesadelo na noite que antecedeu ao crime - disse que sonhara com o diabo -, o que a fez acordar assustada no meio da madrugada. Poucas horas depois, vieram bater na porta de sua casa para comunicar-lhe o trágico acontecimento.
Guilherme Klüppel nasceu em Curitiba, em 12/10/1884 e faleceu com 26 anos de idade. Foi casado com Alayde² Rodrigues teve duas filhas: Amélia e Aracy Klüppel. Amélia faleceu com um ano de vida, vítima de crupe.
¹ O município de Itaperuçu foi criado pela Lei Estadual nº 9.437 de 09/11/1990 e seu território foi desmembrado de Rio Branco do Sul. A instalação deu-se em 01/01/1993.
² Alayde Rodrigues foi batizada como Alaida, conforme assento de batismo da Matriz de Curitiba, em 25/09/1888, filha de Severino José Rodrigues e Amélia Cordeiro Rodrigues.
terça-feira, 14 de maio de 2024
Família Soffiatti Biscaia: A Guaratuba de Outrora
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A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso, no início da década de 1930. |
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Minha avó Olga Biscaia à direita e a tia-avó Diva Bührer Soffiatti, ao centro. Atrás, Laura Klüppel, prima de minha avó. Foto do início da década de 1940.![]() |
Meus avós Olga e Mario Chalbaud Biscaia, em trajes de saída de banho, no início dos anos 1940.
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Nas duas fotos acima, minha avó Olguinha e minha mãe, Maria do Rocio Biscaia, em 1941. À direita, o casal Yara e Carlos Orlando Loyola (Xanga), ela prima de minha avó.
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Eu, no colo de minha avó Olga Biscaia. Ao lado, minha bisavó Rosinha Klüppel Soffiatti e meu tio Mario Chalbaud Biscaia Junior, na varanda da casa de Guaratuba, em julho de 1962. |
Situada num amplo terreno, era espaçosa e confortável. Tinha paredes externas de lambris de madeira dupla horizontal (como as casas norte-americanas) e era pintada de marrom, com janelas, portas e colunas brancas por fora. Por dentro, tinha as cores da moda da época de sua construção: a sala grande era verde clara e havia quatro quartos, um azul; outro verde-escuro; outro amarelo e o quarto rosa, que pertencia aos meus avós. A cozinha era vermelha. Nos fundos, havia uma edícula com garagem e mais dois quartos, no mesmo estilo da casa. Mais tarde, meu tio, Arthur da Silva Leme Neto, mandou construir uma nova e ampla edícula nos fundos do terreno, com uma churrasqueira. Nessa casa, desfrutei de quase todas as férias de minha infância e juventude, por dezenas de verões e invernos.
A casa ao lado, construída pouco antes e projetada pelo famoso arquiteto paranaense Lolô Cornelsen, pertencia aos tios-avós, Maria José (Zezé) Biscaia de Macedo e Tobias de Macedo Junior, padrinhos de minha mãe, Maria do Rocio Soffiatti Biscaia. Tia Zezé era irmã de meu avô Mário Biscaia e eram inseparáveis. Por muitos anos, não existiu muro entre estas casas. Foi este mesmo tio avô, apelidado Biluzinho, que atravessou pela primeira vez um automóvel (um Studebaker) pela baía de Guaratuba, em cima de uma balsa improvisada, em meados da década de 1940.
Conheci o balneário já na era do ferry-boat, que ainda hoje* é o único meio de transporte de veículos e pessoas entre Caiobá e Guaratuba e foi inaugurado em 1960. Sempre fiquei maravilhado com a travessia dessa linda baía, quando criança. As embarcações eram batizadas com nomes de rios do Paraná: Iguaçu, Tibagi, Ivaí, estes os mais antigos de que me lembro. Depois vieram os maiores e mais modernos: Piquiri, Guaraguaçu e Nhundiaquara.
Antes do ferry só se chegava à cidade de carro pela rodovia Garuva-Guaratuba, através de Santa Catarina. A estrada foi rasgada no fim dos anos 1940 e inaugurada em 1950 e, até meados da década de 1970, não era asfaltada. Muito antes, desde a infância, minha avó Olguinha Biscaia já frequentava Guaratuba com seus pais, Rosinha e Guerino Soffiatti. Iniciaram suas idas a Guaratuba na década de 1920 e, pouco depois, adquiriram sua própria casa defronte à baía. Naqueles tempos, a travessia da baía se fazia em canoas, desde a prainha de Caiobá.
Guaratuba só despertou para o turismo, tornando-se um importante balneário, depois da segunda guerra mundial, quando foram finalmente erradicados os focos de malária (ou maleita, como dizia minha avó) que infestava o litoral paranaense. Até fins da década de 1940, nossa família só frequentava Guaratuba durante o inverno, quando não havia mosquitos. Para nós, a antiga cidade litorânea era um segundo lar. Minha bisavó Rosinha Klüppel Soffiatti, após o falecimento do bisavô Guerino Soffiatti, passou a residir permanentemente no balneário, nos seus últimos anos de vida, onde era muito querida e tinha inumeráveis afilhados.
As fotos acima, em cenários bucólicos e de praia quase deserta, onde aparecem meus avós, familiares e amigos, falam por si mesmas desses longínquos primeiros tempos de Guaratuba como cidade balneária, pelos anos de 1930 e 1940. Nas fotos acima, a bela baía de Guaratuba, na atualidade.
A casa ao lado, construída pouco antes e projetada pelo famoso arquiteto paranaense Lolô Cornelsen, pertencia aos tios-avós, Maria José (Zezé) Biscaia de Macedo e Tobias de Macedo Junior, padrinhos de minha mãe, Maria do Rocio Soffiatti Biscaia. Tia Zezé era irmã de meu avô Mário Biscaia e eram inseparáveis. Por muitos anos, não existiu muro entre estas casas. Foi este mesmo tio avô, apelidado Biluzinho, que atravessou pela primeira vez um automóvel (um Studebaker) pela baía de Guaratuba, em cima de uma balsa improvisada, em meados da década de 1940.
Conheci o balneário já na era do ferry-boat, que ainda hoje* é o único meio de transporte de veículos e pessoas entre Caiobá e Guaratuba e foi inaugurado em 1960. Sempre fiquei maravilhado com a travessia dessa linda baía, quando criança. As embarcações eram batizadas com nomes de rios do Paraná: Iguaçu, Tibagi, Ivaí, estes os mais antigos de que me lembro. Depois vieram os maiores e mais modernos: Piquiri, Guaraguaçu e Nhundiaquara.
Antes do ferry só se chegava à cidade de carro pela rodovia Garuva-Guaratuba, através de Santa Catarina. A estrada foi rasgada no fim dos anos 1940 e inaugurada em 1950 e, até meados da década de 1970, não era asfaltada. Muito antes, desde a infância, minha avó Olguinha Biscaia já frequentava Guaratuba com seus pais, Rosinha e Guerino Soffiatti. Iniciaram suas idas a Guaratuba na década de 1920 e, pouco depois, adquiriram sua própria casa defronte à baía. Naqueles tempos, a travessia da baía se fazia em canoas, desde a prainha de Caiobá.
Guaratuba só despertou para o turismo, tornando-se um importante balneário, depois da segunda guerra mundial, quando foram finalmente erradicados os focos de malária (ou maleita, como dizia minha avó) que infestava o litoral paranaense. Até fins da década de 1940, nossa família só frequentava Guaratuba durante o inverno, quando não havia mosquitos. Para nós, a antiga cidade litorânea era um segundo lar. Minha bisavó Rosinha Klüppel Soffiatti, após o falecimento do bisavô Guerino Soffiatti, passou a residir permanentemente no balneário, nos seus últimos anos de vida, onde era muito querida e tinha inumeráveis afilhados.
As fotos acima, em cenários bucólicos e de praia quase deserta, onde aparecem meus avós, familiares e amigos, falam por si mesmas desses longínquos primeiros tempos de Guaratuba como cidade balneária, pelos anos de 1930 e 1940. Nas fotos acima, a bela baía de Guaratuba, na atualidade.
(*) Neste ano de 2024 foram iniciadas as obras de construção de uma ponte rodoviária sobre a baía de Guaratuba, com previsão de conclusão em dois anos. Minha avó Olguinha dizia que já se falava de tal ponte, desde que começara a visitar Guaratuba, em meados da década de 1920. A Constituição do Estado do Paraná de 1989 previu, no artigo 36 das suas disposições transitórias, a construção da referida ponte.
Publicado em 19/03/2011.
quarta-feira, 6 de março de 2024
João da Matta Chapuzet: Um Patriota Lusitano
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Página de introdução |
João da Matta Chapuzet nasceu na freguesia da Lapa, em Lisboa, em 1777*, filho de Gertrudes e João Chapuzet. Sua irmã, Marianna Gertrudes Chapuzet casou-se com Ludgero José Villet, cujo filho homônimo vem a ser o pai da minha trisavô, Maria Adelaide de Burgos Chapuzet Villet, casada com o médico Antonio Botelho Peralta, patriarcas do nosso ramo brasileiro da família Peralta.
Chapuzet sentou praça no Regimento de Artilharia de Marinha em 16/11/1794. Frequentou a Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho e fez o 1º e 2º anos do curso matemático da Real Academia de Marinha. Como engenheiro e arquiteto militar, foi promovido ao posto de segundo-tenente no Real Corpo de Engenheiros, em 04/12/1796. São de sua autoria as plantas de algumas fortalezas de Portugal, como o forte de São Bruno de Caxias e o forte do Guincho.
Logo no início de sua carreira como oficial do exército português combateu na campanha do Alentejo, comandando uma "sortida com duas peças" de artilharia, em 5 de junho de 1801, durante o cerco de Elvas. Foi promovido, sucessivamente, ao posto de primeiro-tenente, em 13/05/1803; a capitão, em 13/12/1808; a major, em 11/08/1812; e a tenente-coronel em 12/10/1815. Neste período, tomou parte em seis campanhas da guerra contra a ocupação napoleônica na Península Ibérica, entre 1808 e 1815, conhecida como Guerra Peninsular. Recebeu por seus méritos bélicos todas as condecorações relativas a estas importantes campanhas militares.
Como reconhecimento pelos seus sacrifícios patrióticos, até o posto de major, dom João VI concedeu-lhe em 1816 as rendas vitalícias da administração da Capela da Coroa de Portalegre. Exerceu várias funções de comando e de estado-maior, sendo promovido ao posto de coronel em 18/12/1820. Era um entusiasta dos ideais liberais que deram origem à revolução constitucionalista de 1820, tendo participado da mesma.
Foi nomeado por dom João VI governador-geral das ilhas de Cabo Verde entre 1823 e 1826. Durante este período seu sobrinho (e meu tetravô), então alferes de infantaria, Ludgero José Villet¹, era o ordenança do governador. O governo do coronel Chapuzet no arquipélago foi marcado por uma administração honesta e por obras de modernização e de urbanização da cidade da Praia, a capital. Em 1826, foi eleito deputado da Nação Portuguesa às Cortes Gerais, representando Cabo Verde. Em junho de 1828, as Cortes Gerais instauraram o governo de usurpação de dom Miguel, revogando a constituição liberal de 1826, o que deu início à guerra civil portuguesa, que duraria até 1834.
Tomando o partido da causa liberal e da legitimidade de dona Maria II (dona Maria da Glória, filha de dom Pedro I do Brasil - Pedro IV de Portugal) que fora destituída do trono e se exilou em Londres e depois no Brasil, o coronel Chapuzet deixou sua família em Lisboa e partiu para um penoso exílio na Bélgica e França, enfrentando grandes dificuldades. Em Portugal, seguiu-se um período de ferozes perseguições políticas aos partidários da rainha. Também expatriado, meu tetravô Ludgero José Villet fez companhia ao tio, do início ao fim.
Quando dom Pedro organizou a expedição militar para recuperar o trono, em 1832, Chapuzet dirigiu à regência instalada na ilha Terceira dos Açores e aos seus representantes em Londres e Paris, diversos apelos para juntar-se às tropas e lutar em terras portuguesas pela restauração. Contudo, não logrou ser atendido. Chapuzet encontrava-se em graves dificuldades financeiras, devido à longa permanência no exílio, onde contraiu dívidas e não possuía recursos próprios para voltar a Portugal e combater ao lado das tropas leais à rainha, como desejava. Nos seus apelos, pedia, também, pelo seu sobrinho Ludgero José Villet, que sempre o acompanhou no longo desterro, conforme a carta acima publicada.
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Publicação do ato de nomeação de Chapuzet como governador interino da Torre de São Julião da Barra, após retornar do exílio em 1833 (Chronica Constitucional de Lisboa, nº 135 de 31/12/1833). |
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A fortaleza de São Julião da Barra em gravura de meados do século XIX |
Conseguiu retornar, finalmente, à Lisboa em 12 de outubro de 1833, sendo reintegrado em suas funções militares. Por portaria assinada por dom Pedro, duque de Bragança, em 21/11/1833, foi nomeado governador interino da Torre de São Julião da Barra, fortificação que já comandara antes, e neste cargo permaneceu por alguns anos. Promovido ao posto de brigadeiro graduado em 24/07/1834, continuou ocupando cargos de alto prestígio militar, tendo sido comandante da 3ª Divisão Militar. Foi reformado com honras, em 05/09/1837, com mais de quarenta anos de serviço militar. O último cargo público que exerceu foi de governador da praça-forte de Elvas, entre 1838 e 1842, do qual foi exonerado em 07/02/1842.
Era, também, escritor e poeta, com algumas obras publicadas e referidas em dicionários bibliográficos da época. Foi casado com Felícia Mariana² Chapuzet e teve uma filha chamada Maria Guilhermina. Faleceu em 6 de agosto de 1842 e foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.
Os feitos do brigadeiro João da Matta Chapuzet, seus escritos e sua trajetória na vida política e militar portuguesa daqueles tempos tormentosos, revelam um homem honesto e corajoso e, mais que isso, um leal servidor da sua pátria.
*Considerando o antigo costume católico que existia, na Península Ibérica, de dar nomes aos filhos conforme o santo do dia do nascimento, é possível que Chapuzet tenha nascido em 17 de dezembro, dia de São João da Matta, ou em data próxima no mês de dezembro de 1777.
¹ Minhas pesquisas recentes revelaram que o pai do tetravô Ludgero José Villet (também homônimo deste), faleceu pouco antes deste nascer, em 1805. Assim, João da Matta Chapuzet criou o sobrinho, filho de sua irmã, como se fora seu próprio filho, dando-lhe orientação e apoio enquanto viveu.
² Felícia Mariana (Villet) Chapuzet era irmã do meu tetravô Ludgero José Villet e de Mariana Gertrudes Villet (homônima da mãe que se casou no arquipélago de Cabo Verde, em 19/01/1824, com Pedro Paulo da Silveira e Castro, capitão do batalhão de caçadores e comandante da primeira companhia provisória do Exército português, em Cabo Verde). João da Matta Chapuzet desposou sua sobrinha (filha de sua irmã Mariana Gertrudes Chapuzet Villet), que ficara órfã ainda criança. Esses casamentos não eram incomuns, na época.
A esposa do coronel Chapuzet, então governador de Cabo Verde, protagonizou um rumoroso caso de adultério com um cirurgião militar, que ficou famoso naquelas ilhas e foi mencionado no romance histórico "O Senhor das Ilhas" de Maria Isabel Baleno (Editorial Caminho S/A, Lisboa, 1994) e em outro mais recente. O cirurgião foi preso e acabou morrendo na prisão. Há alguns documentos nos arquivos históricos portugueses que se referem ao caso. Chamam a atenção, em documentos da época, as manifestações do bispo de Cabo Verde, dom Jerônimo Barco da Soledade, que insistia com veemência na reconciliação do casal Chapuzet.
Republicado em razão de novas pesquisas.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
Maria José Ribeiro e João dos Santos Biscaia
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Assento do batismo de João dos Santos Biscaia, realizado em 04/06/1843, aos dois meses de idade, na matriz de Nossa Senhora da Luz de Curitiba (*). |
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Almanak da Província do Paraná - 1878 O Dezenove de Dezembro - Nov/1872 |
Os trisavós João dos Santos Biscaia e Maria José Ribeiro, em fotografia¹ de meados do século XIX. Ambos eram naturais de Curitiba, sendo que a família de Maria José descendia de Mateus Leme e Baltazar Carrasco dos Reis, fundadores da vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, no fim do século XVII. Ele era filho do capitão Manoel Rodrigues Biscaia e de Maria Francisca dos Santos, residentes no distrito do Capão Raso; e ela, filha de João Ribeiro Baptista e de Rosa Maria de Jesus, todos naturais de Curitiba.
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Fotografia da área central de Curitiba (c.1870). Ao fundo destaca-se a Matriz. |
A capital da província, em fins do terceiro quartel do século XIX, segundo o Almanak da Província do Paraná, contava com perto de 3.000 habitantes no seu núcleo urbano e com 12.651 em todo o município, conforme o censo de 1872. A comarca de Curitiba (que em 1870 abrangia os territórios de outros municípios, além da capital) reunia "24.664 almas". O aumento populacional já refletia os primórdios da colonização italiana na região.
João dos Santos Biscaia era comerciante e proprietário na capital e ocupou a patente de capitão da Guarda Nacional. Teve participação ativa na vida social e política da cidade. Era um dos próceres do partido Liberal e exerceu o cargo de vereador e de fiscal da Câmara Municipal de Curitiba², a qual, nos tempos do Segundo Império, além das funções legislativas, desempenhava aquelas que atualmente competem às prefeituras municipais. Disputou, ainda, uma cadeira na assembleia provincial. Foi, também, irmão mesário³ da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.
João dos Santos Biscaia era comerciante e proprietário na capital e ocupou a patente de capitão da Guarda Nacional. Teve participação ativa na vida social e política da cidade. Era um dos próceres do partido Liberal e exerceu o cargo de vereador e de fiscal da Câmara Municipal de Curitiba², a qual, nos tempos do Segundo Império, além das funções legislativas, desempenhava aquelas que atualmente competem às prefeituras municipais. Disputou, ainda, uma cadeira na assembleia provincial. Foi, também, irmão mesário³ da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.
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Lápide de João dos Santos Biscaia no jazigo da família Biscaia, no cemitério municipal de Curitiba, onde consta o nascimento em 06/03/1842 (*). |
O trisavô João nasceu em 1843 (conforme o assento de batismo) e faleceu em 1891. A trisavó Maria José nasceu em 1846 e faleceu em 1921. Casaram-se em 15/09/1866, em cerimônia oficiada pelo vigário da Matriz, o padre Agostinho Machado Lima.
Tiveram vários filhos, entre eles meu bisavô, João dos Santos Biscaia, homônimo do pai, nascido em 1881, que se casou com a bisavó Josefina (Finita) Chalbaud Biscaia. Minha bisavó Finita conviveu muitos anos com sua sogra, a trisavó Maricota como era conhecida, e contava as suas histórias para os seus filhos e netos.
* Francisco Negrão, em sua conhecida obra "Genealogia Paranaense", edição de 1950 da Impressora Paranaense, volume 1, pág. 573, afirma que João dos Santos Biscaia nasceu em 06/03/1842. No mesmo volume, à página 569, escreve que ele nasceu em 04/06/1843. O assento do batismo (único registro oficial com fé pública na época) certifica que ele foi batizado pelo vigário da Matriz, o padre Antonio Teixeira Camello, no dia 04/06/1843, com dois meses de idade, o que permite concluir que seu nascimento ocorreu no início de abril de 1843.
¹ A fotografia dos trisavós João e Maria José foi obtida pelo meu primo, o advogado e pesquisador Arthur Virmond de Lacerda Neto (neto materno de Antonio Chalbaud Biscaia), em suas pesquisas genealógicas familiares.
² Menos de um século depois, seus netos Antonio Chalbaud Biscaia e Evaristo Chalbaud Biscaia seriam, respectivamente, deputado federal pelo Paraná e vereador em Curitiba. (Vide Os Irmãos Chalbaud Biscaia).
³ Os irmãos mesários eram membros de um órgão de natureza deliberativa na estrutura administrativa das Irmandades das Santas Casas de Misericórdia, eleitos pelos membros da irmandade.
* Francisco Negrão, em sua conhecida obra "Genealogia Paranaense", edição de 1950 da Impressora Paranaense, volume 1, pág. 573, afirma que João dos Santos Biscaia nasceu em 06/03/1842. No mesmo volume, à página 569, escreve que ele nasceu em 04/06/1843. O assento do batismo (único registro oficial com fé pública na época) certifica que ele foi batizado pelo vigário da Matriz, o padre Antonio Teixeira Camello, no dia 04/06/1843, com dois meses de idade, o que permite concluir que seu nascimento ocorreu no início de abril de 1843.
¹ A fotografia dos trisavós João e Maria José foi obtida pelo meu primo, o advogado e pesquisador Arthur Virmond de Lacerda Neto (neto materno de Antonio Chalbaud Biscaia), em suas pesquisas genealógicas familiares.
² Menos de um século depois, seus netos Antonio Chalbaud Biscaia e Evaristo Chalbaud Biscaia seriam, respectivamente, deputado federal pelo Paraná e vereador em Curitiba. (Vide Os Irmãos Chalbaud Biscaia).
³ Os irmãos mesários eram membros de um órgão de natureza deliberativa na estrutura administrativa das Irmandades das Santas Casas de Misericórdia, eleitos pelos membros da irmandade.
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