domingo, 26 de novembro de 2017

Uma Emboscada para Guilherme Klüppel


Telegrama do coronel Carlos Pioli, publicado no jornal  A República, comunicando o assassinato de Guilherme Klüppel.
Reportagem do jornal Diário da Tarde, em 18/08/1911, sobre a emboscada contra Willy Klüppel.  
Os gêmeos Rosa e Willy Klüppel em fins da década de 1880 - Fotógrafo H.A. Volk
Guilherme (Willy) Klüppel na primeira década do século XX (foto que pertencia ao acervo de minha avó Olga Soffiatti Biscaia)
Minha avó, Olga Soffiatti Biscaia sempre contava histórias de família, que eu ouvia com especial atenção e interesse. Aliás, quando pesquiso sobre as histórias que minha avó contava, sempre confirmo que o teor de todas eram o relato da verdade, sem exageros ou invenções. Uma história que era sempre repetida tratava do assassinato de tocaia de seu tio, Guilherme Klüppel, chamado Willy pela família e irmão gêmeo de sua mãe, Rosinha Klüppel Soffiatti. Os gêmeos eram os filhos caçulas de Carolina Nicolau Klüppel.

Nessa história, minha avó contava que Willy Klüppel exercia o cargo de "delegado calça-curta" em Itaperuçu, como eram chamados os subcomissários de polícia, nomeados pelo governador do estado (que na época tinha o título de presidente do estado). Esses cargos políticos eram confiados aos correligionários dos chefes partidários regionais. Guilherme era filiado ao Partido Republicano Paranaense e o coronel Carlos Pioli era o chefe político regional de Rio Branco do Sul, município onde se situava a localidade de Itaperuçu¹ na ocasião. O coronel Pioli foi prefeito daquele município, mais tarde deputado estadual em várias legislaturas, tendo sido um influente líder político no Paraná, durante a República Velha. 

Willy Klüppel foi nomeado subcomissário em Itaperuçu em 1911 e, antes, exercera o mesmo cargo no município de Cerro Azul. A politica partidária naquela região e em muitos outros rincões do Paraná e do Brasil durante a República Velha, envolvia disputas violentas e, não raro, assassinatos de adversários e inimigos. A morte de Guilherme Klüppel, em 17 de agosto de 1911, aconteceu nesse cenário de violência política regional e foi comunicada por telegrama do coronel Carlos Pioli, ao jornal A República, órgão do Partido Republicano Paranaense.

Segundo a reportagem do jornal Diário da Tarde de 18/08/1911, feita com base no relato do subcomissário de polícia da capital, Francisco Nascimento, encarregado da investigação do crime, Willy Klüppel havia deixado sua casa em Itaperuçu com destino à estação ferroviária de Rio Branco do Sul. Lá, supervisionou o embarque de uma carga de madeira e lenha para a capital e para vila Deodoro (hoje Piraquara) onde seu pai, Nicolau Klüppel comercializava lenha e beneficiava madeira. Willy Klüppel e seu cunhado, meu bisavô Guerino Soffiatti, extraíam e comercializavam madeiras em Itaperuçu.

Após o embarque das mercadorias, regressando a sua casa em Itaperuçu, foi atingido por um de dois tiros de emboscada, disparados de um matagal à beira da estrada. O cavalo em que montava, assustado com os tiros, saiu a galope solto até o povoado de Itaperuçu, onde várias pessoas cercaram o animal e o pararam, tentando socorrer Willy. Gravemente ferido, este não resistiu e veio a falecer às 10 horas da manhã. Segundo o jornal, seria esta terceira tentativa contra a vida de Willy Klüppel em pouco tempo e sempre de emboscada. Houve outras tentativas, quando ainda exercia o cargo em Cerro Azul.

As investigações apontaram que o crime foi praticado por uma pessoa contratada por seus adversários políticos, mas, desconheço a conclusão do inquérito ou mesmo se alguém foi punido pelo crime.

Minha avó contava que sua mãe Rosinha, gêmea de Willy Klüppel, tivera um horrível pesadelo na noite que antecedeu ao crime - disse que sonhara com o diabo -, o que a fez acordar assustada no meio da madrugada. Poucas horas depois, vieram bater na porta de sua casa para comunicar-lhe o trágico acontecimento.

Guilherme Klüppel nasceu em Curitiba, em 12/10/1884 e faleceu com 26 anos de idade. Foi casado com Alayde² Rodrigues teve duas filhas: Amélia e Aracy Klüppel. Amélia faleceu com um ano de vida, vítima de crupe.

¹ O município de Itaperuçu foi criado pela Lei Estadual nº 9.437 de 09/11/1990 e seu território foi desmembrado de Rio Branco do Sul. A instalação deu-se em 01/01/1993.  
² Alayde Rodrigues foi batizada como Alaida, conforme assento de batismo da Matriz de Curitiba, em 25/09/1888, filha de Severino José Rodrigues e Amélia Cordeiro Rodrigues.

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