No início de 1942, um grupo de oficiais aviadores, suboficiais e sargentos da Força Aérea Brasileira embarcou para os Estados Unidos com uma missão especial que, mesmo nos dias de hoje, seria considerada arriscada: trazer em voo, desde a América do Norte, algumas dezenas de aeronaves Vultee BT-15 Valiant, apelidado Vultizinho ou Perna Dura, em razão de seu trem de pouso não-retrátil. Embora o Brasil ainda não estivesse em guerra, o que só aconteceu em agosto de 1942, grande parte do mundo estava engalfinhado na segunda guerra mundial, em terras e céus da Europa, Ásia, África e Oceania e em todos os mares e oceanos. Nestas circunstâncias, estes destemidos homens do ar, trouxeram essas aeronaves monomotores, atravessando de norte a sul o continente americano, sem qualquer perda material e, sobretudo, de vidas.
Neste tempo, voava-se “ciscando”, em baixas altitudes, seguindo cursos de rios, tendo como referência acidentes geográficos, utilizando os escassos recursos tecnológicos disponíveis, como rádios e radiogoniômetros, além dos clássicos altímetros-barômetros e agulhas magnéticas. Nada de GPS, celulares, computadores de voo, navegação eletrônica, cabines pressurizadas, ar condicionado e outros luxos modernos. Por vezes, os aviões pousavam em clareiras ou pistas improvisadas e os mecânicos faziam os reparos ali mesmo, sob qualquer condição. Uma aventura digna dos roteiros de filmes.
Tudo isso foi dito, para justificar as páginas do DOU de 21/07/1942, acima expostas, onde no Aviso nº 97, o ministro Joaquim Pedro Salgado Filho, o primeiro da Aeronáutica brasileira, faz um rasgado elogio aos seus comandados, que protagonizaram esta página heroica da aviação brasileira e mundial: "É-me, portanto, sumamente grato felicitá-los e louvá-los pelo arrojo, perícia e disciplina de vôo, tão brilhantemente demonstradas no cumprimento da missão que constituiu motivo de justo orgulho para a Força Aérea Brasileira", escreveu o ministro.
No meio desta relação de bravos está o nome de meu avô, então capitão-aviador Arthur Carlos Peralta, que participou da grande proeza. Estas expedições tiveram início em fins de 1940, quando foi trazida a primeira esquadrilha de aviões North American NA-44 (uma das versões do formidável NA T-6 Texan), de treinamento avançado de pilotos, que aterrissou em solo brasileiro em 13/10/1940. Outras destas aconteceram trazendo outros modelos e a mais numerosa foi essa que trouxe os BT-15, os quais decolaram de San Antonio, no estado do Texas, no dia 23/03/1942.
Além do meu próprio avô, conheci, pessoalmente, alguns destes aviadores corajosos. Lembro-me, especialmente, do coronel-aviador RR Wallace Scott Murray, que encontrei algumas vezes no cassino dos oficiais da base aérea do Bacacheri. Com um nome britânico – ou melhor, escocês – este oficial me contava suas histórias de aventuras como piloto de Spitfire da RAF (Royal Air Force), na segunda guerra e de como havia perdido uma perna em combate. Falava sobre as aventuras de Douglas Bader – grande herói da RAF – que, como ele, havia perdido as pernas. Eu, na época uma criança, ficava muito impressionado com estas histórias e com o Chevrolet hidramático e adaptado que ele possuía.
Mais tarde, meu pai me disse que, na verdade, Scott Murray nunca havia combatido na RAF, embora desejasse, e que me contava aquelas histórias por divertimento, por pilhéria, enfim para ser gentil com um piá muito interessado pela aviação. Afinal, eu nunca soube por que perdeu a perna e não era preciso, pois, lembro-me com carinho das tais “aventuras” e acabei lendo os livros publicados sobre Bader, o Conquistador do Céu.
Este post é dedicado à memória destes heróis esquecidos da nossa gloriosa FAB.
Neste tempo, voava-se “ciscando”, em baixas altitudes, seguindo cursos de rios, tendo como referência acidentes geográficos, utilizando os escassos recursos tecnológicos disponíveis, como rádios e radiogoniômetros, além dos clássicos altímetros-barômetros e agulhas magnéticas. Nada de GPS, celulares, computadores de voo, navegação eletrônica, cabines pressurizadas, ar condicionado e outros luxos modernos. Por vezes, os aviões pousavam em clareiras ou pistas improvisadas e os mecânicos faziam os reparos ali mesmo, sob qualquer condição. Uma aventura digna dos roteiros de filmes.
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Tudo isso foi dito, para justificar as páginas do DOU de 21/07/1942, acima expostas, onde no Aviso nº 97, o ministro Joaquim Pedro Salgado Filho, o primeiro da Aeronáutica brasileira, faz um rasgado elogio aos seus comandados, que protagonizaram esta página heroica da aviação brasileira e mundial: "É-me, portanto, sumamente grato felicitá-los e louvá-los pelo arrojo, perícia e disciplina de vôo, tão brilhantemente demonstradas no cumprimento da missão que constituiu motivo de justo orgulho para a Força Aérea Brasileira", escreveu o ministro.
No meio desta relação de bravos está o nome de meu avô, então capitão-aviador Arthur Carlos Peralta, que participou da grande proeza. Estas expedições tiveram início em fins de 1940, quando foi trazida a primeira esquadrilha de aviões North American NA-44 (uma das versões do formidável NA T-6 Texan), de treinamento avançado de pilotos, que aterrissou em solo brasileiro em 13/10/1940. Outras destas aconteceram trazendo outros modelos e a mais numerosa foi essa que trouxe os BT-15, os quais decolaram de San Antonio, no estado do Texas, no dia 23/03/1942.
Além do meu próprio avô, conheci, pessoalmente, alguns destes aviadores corajosos. Lembro-me, especialmente, do coronel-aviador RR Wallace Scott Murray, que encontrei algumas vezes no cassino dos oficiais da base aérea do Bacacheri. Com um nome britânico – ou melhor, escocês – este oficial me contava suas histórias de aventuras como piloto de Spitfire da RAF (Royal Air Force), na segunda guerra e de como havia perdido uma perna em combate. Falava sobre as aventuras de Douglas Bader – grande herói da RAF – que, como ele, havia perdido as pernas. Eu, na época uma criança, ficava muito impressionado com estas histórias e com o Chevrolet hidramático e adaptado que ele possuía.
Mais tarde, meu pai me disse que, na verdade, Scott Murray nunca havia combatido na RAF, embora desejasse, e que me contava aquelas histórias por divertimento, por pilhéria, enfim para ser gentil com um piá muito interessado pela aviação. Afinal, eu nunca soube por que perdeu a perna e não era preciso, pois, lembro-me com carinho das tais “aventuras” e acabei lendo os livros publicados sobre Bader, o Conquistador do Céu.
Este post é dedicado à memória destes heróis esquecidos da nossa gloriosa FAB.
Republiquei este post antes que findasse o ano em que se comemoram os 80 anos desta conquista inesquecível e extraordinária.