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A praça Santos Andrade coberta de neve, em 1975. Ao fundo, o prédio da Universidade Federal do Paraná, minha alma mater. |
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Fotografia que pertencia à minha avó Olga Biscaia e mostra a neve nos arredores de Curitiba, em 1928. |
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Dia 18/07: o jornal mostra a alegria dos curitibanos no dia da neve |
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Dia 19/07: As manchetes sobre a terrível geada negra no norte do Paraná |
Não há um só mês de julho,
desde aquele longínquo 17 de julho de 1975, em que eu não ouça comentários
sobre se este ano vai ou não nevar. Basta o céu de chumbo curitibano, a garoa fina e os ventos gelados para que a esperança reacenda. Naquele dia, em plenas férias escolares e ainda dormindo debaixo dos cobertores, numa manhã gélida do inverno curitibano, ouvi minha avó, Olga
Soffiatti Biscaia, gritar que estava nevando, chamando para que acordássemos e fôssemos
ver o raro fenômeno que acontecia novamente, depois de quase meio século.
Minha avó, ela mesma havia
testemunhado a última vez que nevou na cidade, em 31 de julho de 1928, quando tinha
aproximadamente a mesma idade que eu tinha quando nevou outra vez. A grama do jardim da
casa da rua Lamenha Lins, 203 ficou coberta com uma fina camada branca, que a
mim pareceu coco ralado espalhado por cima de um bolo verde.
As pessoas tentavam fazer
pequenos bonecos com a escassa neve que caiu por algum tempo, sem muito
sucesso, porque as camadas não eram grossas, nem espessas, como nos filmes
americanos de Natal. O encantamento das crianças e a alegria dos adultos durou
pouco, mas, marcou definitivamente a minha memória e a de todos que vivenciaram
aquela raríssima experiência nestes trópicos.
Se, no leste do estado, o inverno de 1975
deixou boas lembranças e saudades para os curitibanos, ele foi trágico para os habitantes do norte do
Paraná. No dia seguinte ao da neve em Curitiba, com a temperatura abaixo de zero
durante a madrugada, após um período de chuvas contínuas, a famigerada geada
negra matou todos os cafeeiros da região norte, especialmente em Londrina - a "capital do café"-, e
levou à ruína muitos plantadores, com consequências devastadoras para a economia paranaense, que era totalmente dependente da
lavoura do café.
Havia chegado ao fim o dourado ciclo do café paranaense, após quase cinco décadas de geração de riquezas e desenvolvimento, que lançaram as bases para o futuro do Paraná. A rubiácea jamais recuperaria a importância que teve para a vida econômica e social do estado, que chegou a ser o maior produtor mundial.
P.S.: Finalmente, após 38 anos, nevou novamente em Curitiba, no dia 24/07/2013, por pouquíssimo tempo. Mas, nem de longe se comparou à neve de 1975 ou 1928.
P.S.: Finalmente, após 38 anos, nevou novamente em Curitiba, no dia 24/07/2013, por pouquíssimo tempo. Mas, nem de longe se comparou à neve de 1975 ou 1928.
Republicado em 19/07/2022.